Confira aqui a relação entre alimentação e saúde mental

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Você sabia que a relação entre a alimentação e a saúde mental pode interferir na qualidade de vida dos seres humanos? Essa afirmação pode ser explicada com base em algumas evidências e estudos sobre o tema, que vêm surgindo a cada dia mais, principalmente, na área da saúde.

O corpo humano é todo interligado, ou seja, não há como desvincular processos e estados emocionais de outras circunstâncias que envolvem o organismo, como a ingestão de alimentos.

Nesse sentido, preparamos este texto, que aponta aspectos fundamentais que devem ser levados em consideração ao analisar como os indivíduos se relacionam com a comida e com o ato de comer.

Além disso, mostramos os possíveis impactos negativos que hábitos e relações alimentares não saudáveis podem gerar na estrutura cognitiva das pessoas. Pronto para conferir? Então, vamos lá!

Qual é a relação entre a alimentação e a saúde mental?

O processo de se alimentar é uma das principais necessidades básicas dos seres humanos. Tanto é que aparece na base da classificação da Pirâmide de Maslow — conceito introduzido pelo psicólogo renomado Abraham Maslow, em seu livro Theory of Human Motivation, de 1954 — acompanhado de outras exigências fisiológicas essenciais, como respirar e beber água.

Dessa maneira, o cuidado com a alimentação é de extrema importância para proporcionar sustentação adequada na busca pela satisfação de outras necessidades, que também são inerentes à vida humana.

Ou seja, se ao começar o processo de autorrealização pessoal, um dos primeiros pontos — que é a alimentação — já for negligenciado, a chance de surgirem dificuldades em outras questões que vão emergir é muito grande.

E onde entra a saúde mental nessa história? Existem outras questões que seguem na cadeia de necessidades dos seres humanos e que começam a aparecer conforme as anteriores são supridas.

O bem-estar e a segurança quanto à própria saúde são alguns desses aspectos que vão emergir. Isso acontece porque, após satisfazer outras exigências básicas, como se alimentar, as prioridades do indivíduo começam a mudar.

Então, a alimentação e a saúde mental — que não é dissociada da saúde, como um todo — estão diretamente ligadas, na medida em que para atingir uma das necessidades, o ideal é que haja uma interação positiva com a outra.

É difícil estar bem — física e mentalmente — com uma ingestão de alimentos deficitária, ou inadequada, da mesma forma que é complexo manter uma alimentação equilibrada quando aspectos psicológicos, emocionais e de saúde estão em relevância. Percebe como ambas as condições estão conectadas?

Uma curiosidade é que a sabedoria popular sempre soube que uma situação interfere diretamente na outra. Quem nunca ouviu aquela boa e velha recomendação: “se não se alimentar bem, a cabeça não estará ‘boa’ para estudar”? Ou, ainda, aquela frase carinhosa: “uma boa refeição vai te fazer se sentir muito melhor”? Pois elas fazem todo sentido!

Por que uma alimentação saudável pode contribuir para a saúde mental?

Vamos começar pelos fatores fisiológicos. Existe uma série de mecanismos do corpo humano que são iniciados a partir da ingestão de alimentos e da interação deles com o organismo, por exemplo, a geração e a manutenção da energia interna utilizada para viver.

Sendo assim, tudo que é colocado para dentro do corpo, por meio da alimentação, influencia em muitas das funções vitais. É por isso que existem muitos estudos que correlacionam alguns alimentos — a falta ou excesso deles — a doenças físicas e mentais.

Esses estudos partem da premissa de que os nutrientes, as vitaminas e todos os componentes encontrados na comida entram em interação com os processos químicos internos dos indivíduos. As pesquisas apontam também que alguns itens alimentícios podem ajudar ou atrapalhar essa dinâmica.

Esse é o caso, por exemplo, de alguns alimentos que estimulam a produção e a liberação de certos hormônios, importantes para auxiliar na regulação emocional. Veja abaixo alguns neurotransmissores que podem ser impactados pela alimentação:

  • serotonina: que é conhecida por proporcionar uma sensação de felicidade;
  • dopamina: relacionada às recompensas e situações prazerosas;
  • oxitocina: promove a incidência de sentimentos amorosos;
  • endorfina: é o hormônio ligado ao bem-estar.

Portanto, quanto mais equilibrados forem os hábitos alimentares, com mais qualidade e eficácia serão executados os processos do corpo humano. Isso inclui fluidez na capacidade regenerativa corporal, uma boa estruturação cognitiva, resistência física e manutenção da homeostase do organismo, além da regulagem dos estados psicoemocionais.

Para manter uma alimentação saudável, não são necessárias grandes mudanças alimentares no dia a dia e nem mesmo seguir dietas “duvidosas”, que, na maioria dos casos, não foram indicadas por um profissional da área de nutrição. A sugestão proposta pelo Ministério da Saúde, em seu Guia Alimentar para a População Brasileira, é que os alimentos in natura, ou minimamente processados, sejam priorizados.

Quais os impactos de uma alimentação inadequada para a saúde mental?

Como vimos acima, o corpo reage o tempo todo aos alimentos que são ingeridos. Dessa forma, assim como ao optar por comidas saudáveis contribuímos para a boa execução dos processos do organismo, ao introduzir na alimentação produtos industrializados, gordurosos e pobres em vitaminas, ou ao deixar de consumir nutrientes suficientes, a tendência é que o efeito inverso aconteça.

Ou seja, é possível que comecem a surgir doenças físicas, como diabetes, hipertensão, colesterol alto e obesidade, mas também sintomas mentais disfuncionais, como sensação de cansaço excessivo, de fadiga constante, desânimo e tristeza permanentes, irritação, entre outros. Tudo isso por conta da falha nos processos químicos regulatórios das emoções.

É preciso considerar também que muitas outras variáveis fazem parte de um adoecimento mental, como fatores biológicos, situações estressoras, histórico de vida, influência de ambientes e circunstâncias tóxicas, além de questões socioculturais.

No entanto, a relação com a alimentação e a forma de se alimentar impactam diretamente muitos aspectos da vida humana e podem, inclusive, propiciar o surgimento de transtornos psicológicos alimentares.

Esses transtornos são definidos como perturbações persistentes relacionadas à alimentação, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5, o DSM-5. Veja abaixo alguns deles:

  • transtorno alimentar restritivo/evitativo: falta de interesse em alimentar-se ou em alguns alimentos, por diversos fatores;
  • anorexia nervosa: restrição da ingestão de calorias, relacionada ao medo de ganhar peso e à distorção corporal;
  • bulimia nervosa: comportamentos compensatórios, pelo sentimento de culpa, para eliminar calorias, após episódios de compulsão alimentar;
  • transtorno de compulsão alimentar: episódios constantes de descontrole alimentar, com ingestão excessiva de comida.

Como desenvolver uma boa relação com os alimentos?

É muito importante estabelecer um relacionamento com a comida que seja saudável. Isso porque o contrário pode ocasionar o início de psicopatologias vinculadas a essa ligação problemática, tais como as elencadas no tópico acima.

Existem algumas boas práticas para desenvolver uma relação adequada com os alimentos, que podem ser introduzidas já na infância de todo ser humano e que devem perdurar por toda a existência. São elas:

  • identificar os motivadores para se alimentar, compreendendo qual é a função dos alimentos em sua vida, se estão preenchendo espaços, assumindo papéis de consolo em situações negativas ou realmente nutrindo de forma prazerosa, como deve ser;
  • respeitar o momento da alimentação, reservando tempo suficiente para comer com calma e para saborear os alimentos, em local tranquilo, e, se possível, com a família ou com pessoas agradáveis;
  • explorar os diversos tipos de comidas saudáveis e encontrar as preferidas, para que a alimentação seja uma experiência que traga alegria;
  • ficar longe de discussões e brigas, principalmente, nos momentos das refeições, para evitar que memórias e sensações desagradáveis se relacionem ao ato de comer;
  • criar boas memórias vinculadas às refeições, como realizar piqueniques com alimentos saudáveis;
  • compreender as características do próprio corpo e buscar uma imagem corporal positiva, em que a alimentação esteja mais vinculada à saúde e menos à estética.

Com essas simples práticas, é possível fazer com que a relação entre a alimentação e a saúde mental seja equilibrada. Contudo, ainda assim, podem surgir dificuldades nessa jornada em busca de melhorar os hábitos alimentares e ressignificar o ato de comer.

Isso acontece porque cada pessoa tem um histórico de situações guardado na mente, ligado a momentos que se relacionam com a comida que nem sempre são positivos. Portanto, nesses casos, é imprescindível contar com o auxílio profissional de um psicólogo habilitado na área, para compreender a fundo o que impede que essa relação seja saudável.

A terapia cognitivo-comportamental é uma alternativa eficaz para lidar com essas questões. Conheça mais detalhes sobre o tema em mais um de nossos artigos!

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