Ansiedade noturna: entenda as causas e os tratamentos

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Um sono reparador é indispensável para que todos nós consigamos encarar a rotina do dia seguinte com energia e disposição. No entanto, para algumas pessoas, o momento que deveria ser de descanso se torna uma verdadeira “tortura”, já que a mente, extremamente sobrecarregada com diversas preocupações e pensamentos acelerados, não as deixa adormecer.

O seu paciente vem relatando essa dificuldade? Então, provavelmente, você está diante de um caso de ansiedade noturna, em que o estado de alerta permanente — inclusive durante a noite — pode levar a um quadro de insônia crônica.

Quer entender mais a fundo essa condição, conhecendo os seus principais sintomas, as causas comumente associadas e as alternativas de tratamento que podem ser adotadas? Continue a leitura!

O que se pode entender por ansiedade noturna?

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso de todo o mundo, já que cerca de 18,6 milhões de pessoas convivem com o problema. O acúmulo de fatores estressores da vida cotidiana e a dificuldade de se “desconectar” de tudo que vem gerando tensão são as principais razões que levam a esse estado de alerta contínuo, que pode, inclusive, permanecer durante a noite, impedindo que o paciente descanse.

O fato é que o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) desconhece horários. No entanto, esse “fenômeno” pode atingir também quem não sofre com a patologia.

Afinal, com ou sem o diagnóstico, a realidade é que, à noite, de maneira geral, as pessoas recebem menos estímulos, logo, há menos distrações. Com isso, o espaço para que as preocupações “tomem lugar” se torna maior e há uma tendência de que os pensamentos se voltem para os problemas.

Nesse contexto, quando esses sentimentos ganham dimensões desproporcionais, impedindo que a mente se “desligue” e que o sono venha, caracteriza-se o quadro de ansiedade noturna.

Quais são os principais sintomas e como identificá-los?

Inicialmente, é importante ter em mente que os sintomas da ansiedade noturna variam de paciente para paciente, principalmente em razão dos diferentes contextos em que cada um vive e das demandas distintas que tem. Assim, em alguns, a manifestação dos sinais será muito mais agressiva, tornando-os extremamente vulneráveis. Em outros, pode haver um incômodo mais “sutil”, gerando somente um desconforto.

De forma geral, a ansiedade noturna envolve sintomas muito semelhantes aos das crises de ansiedade, mas, por se fazerem presentes durante o período da noite, é natural que a sensação pareça mais “sufocante”. Como os principais, é possível citar:

  • náuseas;
  • desconforto ou dores no peito;
  • palpitações;
  • taquicardia;
  • sudorese;
  • dificuldade de adormecer;
  • antecipação de situações negativas;
  • cansaço físico e emocional;
  • dificuldade de se concentrar;
  • tremores;
  • insegurança;
  • respiração ofegante ou intensa etc.

A identificação dos sinais nos relatos dos pacientes

Em circunstâncias mais delicadas, ainda que adormeçam, os pacientes podem acordar com os batimentos acelerados e assustados. Além disso, não raramente, eles podem mencionar a manifestação de comportamentos compulsivos — que, nessas situações, funcionam como um meio de “alívio imediato”. Bons exemplos são o consumo de drogas e/ou álcool e os “assaltos” à geladeira em meio à madrugada.

Entretanto, durante as sessões, os principais sinais aos quais você, como profissional, deve atentar ao ouvi-los são:

  • o surgimento de pensamentos intrusivos no momento de se deitar, impedindo que a mente descanse;
  • a descontinuidade do sono;
  • o aumento da agitação mental;
  • a necessidade de manter os olhos abertos;
  • a necessidade de se levantar ao longo da noite.

Inclusive, é bastante comum que, com o decorrer do tempo — em razão da ansiedade noturna —, os pacientes comecem a desenvolver um medo de não conseguir adormecer. Então, a longo prazo, é possível que esse receio desencadeie efetivamente uma inquietação quando o horário de dormir se aproxima. Ou seja, a pessoa já começará a sofrer antecipadamente pela dificuldade de dormir antes mesmo de se deitar.

Quais são as causas mais comumente associadas à ansiedade noturna?

As causas geralmente ligadas ao quadro de ansiedade noturna são as mais diversas possíveis, a exemplo dos locais frequentados pelos pacientes e até das atividades que eles desenvolvem. Como o problema se manifesta no período de repouso, normalmente, trata-se de uma espécie de “reação” ao contexto diário vivenciado, seja no trabalho, em espaços acadêmicos ou em quaisquer outros ambientes.

Inclusive, a condição pode estar simultaneamente associada a inúmeras causas, sobrecarregando excessivamente a mente e minando a sensação de bem-estar. No entanto, a seguir, elencamos os principais fatores que costumam provocar o fenômeno ou, pelo menos, contribuir para o seu agravamento.

Preocupações em excesso

Os pacientes que não conseguem se distanciar das preocupações cotidianas nem mesmo na hora de dormir dificilmente conseguirão “desligar” o cérebro e adormecer à noite. Nesses casos, é comum que as pessoas que sofrem com a ansiedade noturna, ao se deitarem, tenham a sensação de que são invadidas por pensamentos intrusivos e desgovernados — especialmente aqueles relacionados à antecipação de circunstâncias potencialmente negativas.

Ausência de um “ritual de sono”

Quando não existe uma rotina de sono a ser seguida, não raramente os hormônios se desregulam, o que pode contribuir para que o paciente enfrente grandes dificuldades na hora de dormir. Inclusive, determinados hábitos podem atrapalhar ainda mais o processo, como assistir à TV ou mexer no celular pouco antes de adormecer e não estabelecer horários fixos para se deitar e para acordar.

Estresse

O estresse — quando constante — desencadeia o surgimento de inúmeros problemas de saúde, podendo impactar também a qualidade do sono. Via de regra, o que acontece nesses casos é que os níveis de cortisol permanecem altos mesmo nos períodos em que o corpo deveria relaxar, impactando negativamente o bem-estar do paciente.

Outros transtornos psicológicos

Um último ponto que é fundamental destacar é o fato de que a ansiedade noturna pode ser, na verdade, um sintoma que aponta para outro transtorno preexistente, a exemplo da depressão — já que esse distúrbio também tem o potencial de prejudicar o sono. Portanto, é fundamental ter um olhar atento a tudo o que é relatado pelo paciente e até a “manifestações implícitas”, que possam sinalizar a existência de outros problemas.

Afinal, em alguns casos, o paciente pode demandar um tratamento multidisciplinar, com o acompanhamento psiquiátrico e a administração de medicações específicas para o quadro.

Como ajudar os pacientes a lidarem com a ansiedade noturna?

É comum que os pacientes que vêm enfrentando a ansiedade noturna há algum tempo comecem a recorrer a medicamentos com efeito calmante para conseguirem relaxar e, consequentemente, adormecer. No entanto, a administração de remédios nem sempre é necessária, valendo a pena recorrer a algumas mudanças no estilo de vida.

Nesse sentido, você, como profissional, pode orientá-los a definir algumas diretrizes que os ajudarão a transformar os hábitos cotidianos. A seguir, elencamos boas dicas que podem funcionar como estratégias de enfrentamento da ansiedade noturna.

Oriente o paciente a praticar regularmente exercícios físicos

Os exercícios físicos, como já é sabido, exercem um papel indispensável na promoção do nosso bem-estar. Isso porque, a partir das alterações metabólicas provocadas por eles, é possível que os praticantes se sintam mais relaxados ou mais dispostos — a depender da atividade e do horário em que se dedicam a ela.

Nesse sentido, é interessante estimular o paciente a praticar exercícios físicos mais intensos logo pela manhã para “despertar” o corpo e, à noite, dar preferência a modalidades mais relaxantes e leves, como alongamentos.

Incentive-o a fazer uma higiene do sono

Vivemos em uma era digital e é até difícil se lembrar do que costumávamos fazer à noite antes que os dispositivos digitais, como os smartphones e os tablets, se tornassem praticamente uma extensão dos nossos membros, não é? Contudo, especialmente para quem vem sofrendo com a ansiedade noturna, o hábito de ficar em frente às telinhas durante a noite, “mergulhado” nas mídias sociais e recebendo um sem-número de estímulos diversos pouco antes de tentar adormecer não é nada saudável.

Então, procure orientar o seu paciente a se “desconectar”, pelo menos, uma hora antes de se deitar — preferencialmente, às 20h —, já que, em geral, por volta das 21h, o corpo humano começa a liberar melatonina, que é conhecida como o hormônio do sono. Ajude-o a compreender que ele não precisa ir dormir nesse horário, caso ainda pareça muito cedo, mas o ideal é se afastar do celular, do computador e de outros aparelhos que poderão intensificar a tensão e o estresse.

Estimule-o, por exemplo, a adotar um hobby que possa fazer parte de um “ritual de sono”, como a leitura. Além disso, é extremamente importante que ele deixe o cômodo de dormir tão confortável e acolhedor quanto possível, com uma temperatura e uma iluminação agradáveis. Isso favorecerá o relaxamento.

Estimule-o a meditar

Da mesma maneira que atividades leves, como os alongamentos, podem auxiliar no relaxamento do corpo, outras práticas, como recorrer a técnicas de meditação, podem ajudar a relaxar a mente, além de trazer inúmeros outros benefícios quando feitas regularmente, como:

  • redução dos níveis de estresse;
  • direcionamento do foco para o momento presente;
  • aumento da concentração;
  • diminuição de dores mentais e físicas;
  • promoção do bem-estar geral.

A meditação mindfulness, por exemplo, pode ser uma excelente alternativa. Também conhecida como a técnica da “atenção plena”, para praticá-la, o ideal é que o paciente se sente em um local em que se sinta estável, mantendo uma boa postura e procurando sentir a sua respiração.

Oriente-o a reservar um tempo na rotina para atividades prazerosas

Mais uma iniciativa fundamental, especialmente para quem vive sob uma grande pressão, é buscar atividades que vão além das obrigações cotidianas, a fim de aliviar a tensão. Sendo assim, oriente o paciente a desenvolver um hobby e reservar um momento do seu dia para colocá-lo em prática, voltando toda a sua atenção a algo que proporcione apenas relaxamento e prazer.

Ainda nesse contexto, reforce o quanto é importante que ele tente esquecer as cobranças nesse momento. Ou seja, é essencial que a atividade não se torne um “fardo” e que ele comece a se cobrar para executá-la da melhor maneira possível. Inclusive, o ideal é optar por algo que não tenha nenhuma relação com o âmbito profissional e que somente traga satisfação.

De que forma a psicoterapia pode se revelar uma aliada no tratamento?

A psicoterapia é o principal apoio profissional que auxilia no combate aos quadros de ansiedade noturna, atenuando os seus sintomas. Nesses casos, o acompanhamento psicológico pode ser determinante para que o indivíduo consiga lidar de forma mais saudável com os fatores que vêm desencadeando o problema, a partir da criação de táticas de enfrentamento.

Afinal, é importante que o paciente tenha em mente que, por mais saudável que a rotina seja, mesmo com a adoção de hábitos positivos — como os mencionados no tópico anterior —, a vida não segue um percurso linear. Ou seja, a ansiedade noturna ainda pode surgir. Logo, mesmo que os problemas sejam solucionados, é possível que seja necessário “driblar” alguns sintomas persistentes.

Nas sessões de psicoterapia, porém, o paciente poderá se abrir sem receio de quaisquer julgamentos por parte do profissional que o ouve, enquanto este último vai utilizar toda a sua expertise para a avaliação do seu quadro. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, em meio às mais diversas abordagens da Psicologia, é uma grande aliada, já que emprega técnicas específicas que ajudam o indivíduo a reconhecer aquilo que vem ocasionando o seu sofrimento e funcionando como um gatilho para o surgimento de pensamentos intrusivos e de comportamentos disfuncionais.

Então, a partir disso, o psicólogo pode auxiliá-lo a “reprogramar” o seu cérebro, tornando-o capaz de reconhecer as suas próprias dores e a agir da melhor maneira para contorná-las.

Entendeu como a ansiedade noturna, embora tenha o potencial de evoluir para quadros de maior gravidade, como a insônia crônica, pode ser tratada por meio da psicoterapia e, inclusive, atenuada com a adoção de hábitos mais positivos por parte do paciente?

Agora que você já domina os sintomas mais comuns da condição e conhece as principais causas que desencadeiam o problema, experimente se especializar na Terapia Cognitivo-Comportamental para conduzir as sessões em prol da superação do transtorno.

Inclusive, aproveite para conhecer também dez técnicas da TCC para o autoconhecimento! Leia o nosso post sobre o tema!

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