Terapia do Esquema de Grupo para Pacientes Borderline Graves

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Estudos apontam uma prevalência do Transtorno da Personalidade Borderline de até 2,7% em amostras não clínicas, 10% em pacientes ambulatoriais e 25% em populações internadas. É um transtorno associado a intenso sofrimento para o indivíduo e sua família, além de utilizar uma grande quantidade de recursos de tratamento psiquiátrico e psicológico.

Entre os modos de tratamento possíveis para programas ambulatoriais com pacientes borderline, a Terapia do Esquema se apresenta como uma alternativa promissora, tendo em vista estudos prévios nos quais se revelou eficaz em todos os aspectos do transtorno e associada a melhorias significativas na qualidade de vida.

Visando o uso mais eficiente da Terapia do Esquema, Farell e Shaw desenvolveram um formato de grupo para essa terapia, cuja eficácia foi demonstrada em um estudo multicêntrico com pacientes borderline femininas. Os resultados sugerem que fatores específicos da terapia de grupo podem potencializar os efeitos terapêuticos nesses pacientes, além da possível ampliação do custo-benefício para os serviços de saúde.

O estudo piloto de um grande ensaio internacional sobre a eficácia clínica da Terapia do Esquema de Grupo para o Transtorno da Personalidade Borderline foi publicado em novembro de 2016 na revista Frontiers in Psychology. Desta pesquisa participaram 10 pacientes femininas com histórico de internações múltiplas, vários tratamentos ambulatoriais e múltiplos tratamentos farmacológicos. Apesar desse passado de tratamentos intensivos, nenhuma paciente estava em remissão e todas aguardavam em uma lista de espera para um tratamento adicional.  Nenhuma das pacientes tinha um trabalho remunerado ou estava engajada em alguma atividade educacional e nenhuma tinha um relacionamento estável sem violência, refletindo um funcionamento psicossocial severamente prejudicado. A idade média era de 35 anos e havia um alto grau de comorbidade com outros transtornos mentais.

O protocolo de tratamento consistiu em uma sessão semanal de grupo de 100 minutos de duração, acompanhada por dois terapeutas, combinadas com sessões individuais semanais de 60 minutos com o objetivo específico de apoiar as sessões de grupo. Este programa de terapia foi oferecido pelo período de um ano, associado ao acompanhamento farmacológico que visou a redução da polifarmácia.

Nos resultados houve melhoria significativa nos sintomas típicos do Transtorno da Personalidade Borderline (tanto em perspectiva objetiva quanto subjetiva), com sete dos nove critérios do DSM-IV diminuindo de intensidade.  O funcionamento psicossocial, ocupacional e qualidade de vida também melhoraram significativamente. A média de dias de internação por ano caiu de 93 para 4 dias após um ano de tratamento.

Os resultados das medidas específicas de Terapia do Esquema demonstraram que os modos de esquema disfuncionais estavam em declínio na sua intensidade, enquanto o modo adulto saudável se intensificou. Da mesma forma, os esquemas iniciais desadaptativos perderam intensidade, o que sugere que a redução significativa dos sintomas possa ter relação com os mecanismos postulados pela terapia do esquema.

Houve um caso de abandono relacionado à comorbidade com Transtorno da Personalidade Esquizotípica, o que pode sugerir uma contra-indicação para a Terapia do Esquema de Grupo ou indicar a necessidade de adaptação do programa para esses casos. As principais limitações do estudo foram o tamanho pequeno da amostra e a ausência de um grupo controle. Ensaios controlados com amostras maiores são necessários para maior fundamentação da eficácia da abordagem.

Este artigo foi escolhido para a elaboração de um material especial com tradução livre e comentários disponibilizado aos alunos do COGNITIVO, sendo o texto acima um resumo. Se você não localizou o conteúdo completo no seu e-mail, solicite ao setor administrativo da sua turma. Para maiores informações sobre a publicação, consultar o artigo original citado na referência.

Neri Maurício Piccoloto
Psiquiatra, Mestre em Psicologia

Referência Bibliográfica:
Fassbinder, E.; Schuetze, M.; Kranich, A.; Sipos, V.; Hahagen, F. Shaw, I.; Farrell, J.; Arntz, A.; Schweiger, U. (2016). Feasibility of Group Schema Therapy for Outpatients with Severe Borderline Personality Disorder in Germany: A Pilot Study with Three Year Follow-up. Frontiers in Psychology (7): Article 1851.

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