Muitos “mitos” permeiam a terapia cognitiva. Um dos mais difundidos é o de que terapeutas cognitivos não dão a devida importância à relação terapêutica, focando excessivamente nas técnicas de tratamento.
Um conhecimento mais aprofundado da terapia cognitiva, no entanto, nos mostra que essa ideia não procede ou, pelo menos, deve proceder quando a terapia é conduzida de forma adequada.
Segundo Dobson & Dobson (2010) a verdade está no meio do caminho. Os terapeutas cognitivos devem ter ciência de que a psicoterapia se desenvolve em um ambiente interpessoal e, ao mesmo tempo, empregar as técnicas cognitivas e comportamentais cujas evidências apontam para a eficácia do tratamento.
Um componente fundamental de toda a sessão de terapia cognitiva é o feedback, descrito por Judith Beck (1995) como o elemento final de toda a sessão, que transmite ao paciente uma preocupação verdadeira a respeito de como ele pensa e se sente em relação ao seu tratamento e ao seu terapeuta.
Em uma das obras que lançaram as bases da terapia cognitiva, Aaron Beck e cols. (1979) dedicaram um capítulo inteiro (capítulo 3) à relação terapêutica. No texto, os autores afirmar que a relação terapeuta-paciente influencia diretamente o modo como as técnicas de tratamento são aplicadas e destacam a importância das reações de “transferência” e “contratransferência”, vistas sob o referencial cognitivista.
Os mesmos termos são utilizados por Robert Leahy (2001), quando aborda vários obstáculos ao resultado positivo da terapia cognitiva, em grande parte associados a aspectos da relação terapêutica.
A grande maioria dos manuais de tratamento cognitivo-comportamentais descrevem a importância dos terapeutas cognitivos serem empáticos, respeitosos, cordiais e autênticos, entre outras posturas fundamentais para o estabelecimento de uma aliança terapêutica saudável e produtiva.
A relação terapêutica, portanto, é um elemento essencial da terapia cognitiva desde que sua primeira obra foi publicada, ganhando cada vez mais destaque e importância ao longo dos anos. A não valorização desse aspecto pela terapia cognitiva trata-se de uma premissa totalmente equivocada.
Neri Maurício Piccoloto
Psiquiatra, Mestre em Psicologia
Referências Bibliográficas:
Beck, A.T.; Rush, A.J.; Shaw, B.F.; Emery, G. (1979). Cognitive therapy of depression. New York: Guilford Press.
Beck, J.S. (1995). Cognitive therapy: basics and beyond. New York: Gulford Press.
Dobson, D.; Dobson; K.S. (2010). A terapia cognitiva baseada em evidências. Porto Alegre: Artmed.
Leahyu, R. (2001). Overcoming Resistence in Cognitive Therapy. New York: Guilford Press.