A eficácia do tratamento psicológico está diretamente relacionada à compreensão do psicólogo acerca dos papéis desempenhados por ele e pelo paciente durante o processo terapêutico. Não basta que o profissional conheça e aplique técnicas, já que também é preciso dominar os conceitos que embasam a prática da ciência psicológica.
Sem clareza teórica, o tratamento está sujeito ao fracasso, uma vez que as expectativas inadequadas causam frustração ao paciente e ao profissional.
Para garantir credibilidade e autoridade sobre a sua atuação, além de oferecer o melhor serviço ao seu paciente, continue lendo este artigo. Você vai entender melhor os conceitos de psicologia clínica e psicoterapia, ideias que ainda confundem muitos profissionais. Boa leitura!
A psicologia clínica e a psicoterapia
Com o avanço da ciência psicológica, os ambientes de atuação do psicólogo estão cada vez mais variados e abrangentes. Seja na escola, nos hospitais, em presídios, em instituições ou, até mesmo, no sistema judiciário, o espaço e as possibilidades de exercício tendem a aumentar e a ganhar importância na sociedade.
Nesse sentido, a clínica é um dos modelos de atuação do psicólogo. É a parte que estuda os processos mentais, as causas e as manifestações comportamentais. O profissional especializado nessa área é o responsável por avaliar, diagnosticar e tratar o sofrimento psicológico.
É importante ressaltar que a psicologia clínica não diz respeito somente aos distúrbios e às disfunções mentais, embora eles estejam incluídos. Além das doenças, ela também trata de demandas que não são patológicas, como a busca por autoconhecimento e a resolução de conflitos.
Por sua vez, a psicoterapia é o atendimento oferecido na psicologia clínica. É um processo colaborativo entre o profissional e o paciente, por meio da escuta, da fala e da aplicação de técnicas. O objetivo do tratamento é aliviar o sofrimento, controlando ou eliminando sintomas para restabelecer a qualidade de vida do paciente.
A psicoterapia tem três formatos principais:
- individual: é o método tradicional, no qual o psicólogo analisa questões de caráter pessoal de um cliente por vez e busca a solução de um problema;
- coletiva: é realizada em grupo de duas ou mais pessoas, com o objetivo de atuar sobre questões com as quais o grupo se identifica coletivamente. Foca na comunicação e na interação dos pacientes e pode incluir as dinâmicas e o psicodrama;
- institucional: é realizada em hospitais e clínicas psiquiátricas, com o objetivo de amenizar transtornos psicológicos e reabilitar os pacientes psiquiátricos para a vivência em sociedade.
Os benefícios da psicoterapia para o paciente
A psicologia ainda carrega o estigma e o preconceito da atribuição exclusiva ao tratamento de pessoas mentalmente disfuncionais. O psicólogo deve se afastar da perspectiva médica e quebrar esses preconceitos, já que a terapia também trabalha questões trazidas por pessoas que não têm distúrbios.
Ou seja: saúde mental não significa ausência de transtornos, mas, sim, a promoção da qualidade de vida. Por isso, a psicoterapia não tem contraindicações e traz ganhos para todas as pessoas. Entenda melhor quais são esses benefícios a seguir.
Desenvolvimento de inteligência emocional
Uma das maiores vantagens da terapia é racionalizar as emoções. Ao entender a origem dos sentimentos, fica mais fácil controlá-los e não tomar atitudes impulsivas, além de desenvolver tolerância à frustração e independência afetiva.
Autoconhecimento
Muitas pessoas buscam a psicoterapia para organizar as ideias e entender mais sobre si mesmas. Dessa forma, o paciente compreende melhor as suas capacidades e consegue definir objetivos realistas para evitar a sensação de fracasso. O psicólogo promove o protagonismo do paciente sobre a vida e ajuda-o a não viver em função das expectativas de terceiros.
Aprendizado e aperfeiçoamento de habilidades sociais
Os problemas de relacionamentos interpessoais estão entre as principais causas que fazem as pessoas procurarem ajuda profissional. Isso acontece porque empatia e assertividade são habilidades difíceis de adquirir, assim como a capacidade de identificar relações disfuncionais e que causam dependência emocional.
A terapia permite ao paciente reavaliar os seus papéis sociais como pai, mãe, filho, cônjuge etc. Dessa forma, ele passa a agir de acordo com as suas possibilidades e, consequentemente, se responsabiliza menos por situações que independem do seu controle.
Abertura para mudanças
A terapia é um lugar de aprendizado. As crenças e opiniões deixam de ser engessadas porque o paciente compreende a fluidez da condição humana, incluindo a sua habilidade de reconhecer e corrigir os erros. Portanto, o psicólogo deve auxiliar o paciente a quebrar paradigmas, desmitificar concepções e, principalmente, reavaliar a percepção do mundo.
Superação de conflitos
Não são poucos os cenários de confronto que enfrentamos diariamente. Na verdade, situações de conflito fazem parte do cotidiano, não sendo uma possibilidade eliminá-las. Entretanto, em muitos casos, as circunstâncias de atrito passam a gerar um nível de estresse tão significativo que são capazes de tirar o foco do indivíduo do que realmente é relevante — e é aí que entra o papel da psicoterapia, que busca promover maneiras alternativas de administrar essa carga.
Além disso, esse tipo de suporte ainda pode ser benéfico no sentido de auxiliar o paciente a encarar traumas mais profundos (por vezes, decorrentes de episódios que se passaram anos atrás) e, desse modo, superá-los efetivamente.
Melhora nos relacionamentos interpessoais
Uma vida plena não é possível sem o estabelecimento de relacionamentos, independentemente do tipo, já que somos seres sociais por natureza. Nesse sentido, a psicoterapia trabalha o desenvolvimento das habilidades de socialização de um indivíduo, com o propósito de melhorar as relações mantidas — sendo especialmente útil para aqueles que apresentam uma personalidade mais introspectiva, com tendência ao isolamento social, a fim de evitá-lo.
As diferentes abordagens psicoterapêuticas
Para direcionar o exercício da psicoterapia, foram desenvolvidos alguns princípios teóricos que embasam a atuação profissional. Cada abordagem foca em aspectos diferentes da constituição humana e todas dependem da dedicação do profissional em se aprofundar nos estudos e em reconhecer as suas limitações. Conheça as principais abordagens psicológicas a seguir.
Cognitivo-comportamental
Para a terapia cognitivo-comportamental (TCC), os pensamentos e crenças (ou seja, as cognições) formados ao longo da vida influenciam a maneira como a pessoa compreende os acontecimentos, impactando as emoções e os comportamentos. O objetivo do terapeuta é identificar padrões de pensamentos disfuncionais que acarretam condutas inadequadas e sofrimento mental para desconstruí-los e reestruturá-los.
Essa abordagem é caracterizada pela objetividade e pela validação científica, além de ser famosa pelas altas taxas de efetividade e pela longevidade dos resultados empiricamente comprovados. É indicada para o tratamento dos mais diversos transtornos mentais descritos pela literatura científica atual, inclusive de distúrbios recorrentes, como a depressão.
Junguiana
Também chamada de “psicologia analítica”, essa abordagem tem como base as ideologias de Carl G. Jung e é trabalhada para fazer uma integração entre o inconsciente e o consciente. Desse modo, visa ao estabelecimento de um equilíbrio entre os universos interno e externo.
O paciente passa, nessa metodologia de psicoterapia, por três estágios: autoconsciência, transformação e atualização. O intuito é permitir a percepção daquilo que está na região mais “obscura” e aparentemente inacessível da psique do indivíduo para, então, transformá-lo e tornar a mudança concreta.
Psicoterapia breve
O termo “psicoterapia breve” tem origem na tentativa de reduzir o tempo dos tratamentos psicanalíticos, em termos de duração, feitos por S. Ferenczi e O. Rank em um período em que a referência à psicanálise era inevitável em razão da inexistência de outra modalidade de tratamento. Essa abordagem tem como base uma espécie de “tripé” formado por atividade, planejamento e foco.
O propósito é alcançar os objetivos da terapia em um prazo bem mais encurtado, promovendo a melhora na qualidade de vida a partir da eleição de uma queixa principal, que tem, então, a sua resolução como foco.
Análise do comportamento
O behaviorismo, ou análise do comportamento, surgiu com base nos estudos de Skinner no século 20, como uma contraproposta à psicanálise. Os psicólogos behavioristas focam o comportamento, aquilo que é passível de observação, mensuração e teste.
O objetivo principal dessa terapia comportamental é compreender e modificar as contingências que definem um determinado comportamento, de modo a aumentar ou diminuir a frequência dessas condutas.
Gestalt
Criada nos anos 50, na Europa, por Fritz Perls, é uma tendência da teoria mais vinculada à Filosofia. Esse é um tipo de abordagem de psicoterapia que busca ensinar aos indivíduos o fenômeno de awareness como um método em que o atuar, o sentir e o perceber são preferíveis em comparação a interpretar e focar a modificação de condutas preexistentes.
Psicanálise
Essa abordagem psicoterapêutica foi desenvolvida por Freud no final do século 19, embora autores como Lacan, Melanie Klein e Jung tenham implementado conceitos igualmente aplicados por muitos psicoterapeutas.
A psicanálise aborda o aspecto inconsciente da mente, decifrando a natureza humana a partir do passado individual, das relações com os pais, dos sonhos e dos traumas. Na técnica, chamada de livre associação, por exemplo, o psicanalista estimula os insights para compreender os pensamentos e as ações.
Psicodrama
Fazendo uso da ação como um meio de investigar a psique humana e as respectivas ligações emocionais, com o propósito de desenvolver no indivíduo a espontaneidade, essa abordagem foi criada por Levy Moreno, psiquiatra romeno, no início do século 20. Originada do Teatro do Improviso, ela busca a verdade, fazendo da dramatização, um instrumento.
Essa prática é compreendida como um processo que tem a capacidade de trabalhar o resgate de inúmeras possibilidades de ação e de criatividade do paciente.
Humanismo
Aqui, é fornecida uma perspectiva holística da constituição humana. O indivíduo é visto como um todo: os aspectos mentais, corporais, emocionais e espirituais estão interligados e são indissociáveis.
Carl Rogers foi um dos principais formuladores da psicologia humanista, com a terapia centrada no cliente. Essa abordagem enfatiza a autonomia do indivíduo sobre as suas escolhas dentro de um leque de possibilidades que proporcionam o desenvolvimento pessoal.
Muitos profissionais escolhem a psicologia clínica como carreira, mas precisam adquirir um maior domínio teórico para o bom atendimento dos pacientes. A atuação como terapeuta exige mais do que a aplicação de técnicas. É preciso compreender o papel das abordagens dentro da psicologia clínica e como cada uma contribui para a qualidade de vida do paciente.
Esse é o caminho para alcançar mais credibilidade e sucesso profissional, além de garantir a eficácia do processo terapêutico para o indivíduo.
Você já conhecia os benefícios da psicoterapia? A sua abordagem é efetiva na redução do sofrimento dos seus pacientes? Se você gostou deste artigo, assine a nossa newsletter para acompanhar de perto as nossas postagens e alavancar as suas habilidades como psicólogo!