Um momento de intensa alegria repentinamente se transforma em angústia, tristeza e raiva, simplesmente porque outra pessoa adiou um compromisso. Esse é um exemplo claro de intolerância à frustração e instabilidade emocional, duas das principais características do transtorno de personalidade borderline.
Apesar de ser um termo conhecido entre os especialistas da saúde mental, ainda existem dúvidas na hora de identificar os sinais dessa desordem e determinar o diagnóstico.
Neste post, vamos falar um pouco mais sobre o transtorno borderline, passando pelas causas, sintomas e possibilidades de tratamento. Continue a leitura e confira!
O que é transtorno de personalidade borderline?
Primeiramente, vamos relembrar que personalidade é um conjunto de traços psicológicos que geram padrões de pensamento e comportamento. Aqui, estão incluídas as características totais do indivíduo, sejam elas inatas ou adquiridas ao longo de suas vivências. A partir dessa construção psíquica, a pessoa define suas formas de perceber o mundo, formular ideias e se relacionar.
Por sua vez, o transtorno de personalidade envolve prejuízos no funcionamento adaptativo do ser humano. Como resultado, desenvolvem-se padrões de pensamento distorcidos e inflexíveis e comportamentos patológicos.
O transtorno de personalidade borderline afeta, principalmente, o modo de o indivíduo se relacionar. A instabilidade emocional, a insegurança, o medo do abandono e as reações inadequadas de raiva transformam os relacionamentos interpessoais em uma fonte de intenso sofrimento para o indivíduo e para as pessoas que com ele convivem. Em resumo, trata-se de uma desordem persistente que afeta o funcionamento pessoal e social.
O termo “borderline” quer dizer “fronteiriço” e esse quadro também é conhecido como transtorno de personalidade limítrofe. Isso indica que a pessoa portadora dessa disfunção permanece no limite entre a sanidade mental e a patologia.
Quais são as causas desse problema?
Como em boa parte das desordens mentais, não existe uma causa única e invariável para o surgimento do transtorno de personalidade borderline. Diferentes fatores podem levar a esse quadro, incluindo aspectos genéticos, psicossociais e neurológicos.
Sabe-se que esse problema é significativamente mais frequente entre parentes de primeiro grau, o que confirma a genética como um fator de risco. Aspectos neurobiológicos, como alterações estruturais e funcionais no cérebro, também são fontes da disfunção. Sobretudo, quando são afetadas as áreas responsáveis pela regulação das emoções e pelo controle de impulsos.
Por fim, as influências ambientais e sociais se configuram como importantes agentes desencadeadores do transtorno borderline. Instabilidade nas relações familiares e experiências traumáticas durante a infância podem se tornar fontes do problema, como nos casos de:
- abuso sexual;
- exposição constante à violência física e psicológica;
- histórias de negligência, abandono ou vínculos parentais fragilizados;
- separação abrupta de pessoas próximas e rompimento de laços afetivos;
- bullying ou desgaste emocional constante por outras razões.
Quais são as suas principais características e sintomas?
As pessoas com transtorno de personalidade borderline sofrem intensamente com o medo de serem abandonadas, seja essa possibilidade real ou imaginária. Essa é uma das características mais evidentes dessa desordem psicológica e todos os demais sintomas estão atrelados a ela.
A desconfiança angustiante de que está prestes a enfrentar o abandono provoca alterações significativas no afeto, na autoimagem, nos padrões de pensamento e no comportamento. Isso também é refletido em outro traço marcante dos borderline: as crises incontroláveis de raiva e a intolerância à frustração.
E nem é necessário que aconteça um fato de grande impacto para que todo esse vulcão emocional entre em erupção. Um pequeno atraso ou o cancelamento repentino de um compromisso podem ser gatilhos para uma crise de raiva ou para a desestabilização total do humor.
Nesse ponto, entra a distorção da autoimagem. As pessoas com transtorno borderline acreditam que serão abandonadas por serem más, desprezíveis e não merecedoras de afeto. Diante disso, recorrem a meios nocivos para atrair a atenção e causar culpa em seus companheiros ou cuidadores, como automutilação e comportamentos suicidas.
Os portadores desse transtorno se apegam muito rapidamente e esperam reciprocidade e entrega absoluta em relacionamentos recém-iniciados — isso vale para relações amorosas, amizades ou qualquer outro tipo de vínculo afetivo.
Não existem elos saudáveis no padrão de relacionamento da pessoa borderline. As relações são sempre carregadas de intensidade, exigências, insegurança e instabilidade. Ocorrem mudanças súbitas na forma de ver os outros, o que faz com que o sentimento de idolatria e idealização pelo próximo se transforme repentinamente em desvalorização.
Da mesma forma, essas pessoas passam por alterações dramáticas e constantes em relação à autoimagem, aos seus valores e opiniões. Nem os projetos de vida e objetivos profissionais escapam da instabilidade borderline.
A impulsividade e os comportamentos compulsivos também fazem parte desse quadro. Os indivíduos com esse transtorno, em geral, desenvolvem algum tipo de vício, como abuso de álcool ou drogas, compulsão por jogos, prática de sexo inseguro, direção perigosa, entre outros. As atitudes nocivas são motivadas pelo sentimento crônico de vazio e pela necessidade de preencher uma lacuna emocional.
Em resumo, os principais sintomas do transtorno de personalidade borderline são:
- instabilidade de humor;
- insegurança;
- medo extremo de ser abandonado;
- intolerância à frustração;
- crises exageradas e incontroláveis de raiva;
- autoimagem distorcida;
- padrão de relacionamento intenso e inconstante / vínculos afetivos frágeis;
- comportamentos compulsivos;
- autoagressão e ameaças de suicídio;
- sentimento de vazio existencial;
- em crises, pode surgir paranoias e delírio persecutório.
Existe tratamento efetivo para esse transtorno?
A psicoterapia e a intervenção farmacológica são as principais possibilidades de tratamento para o transtorno borderline. O acompanhamento com especialistas é imprescindível para esse quadro, já que pode se agravar e levar ao suicídio.
É necessário que cada caso seja avaliado criteriosamente e com observação à sua especificidade. Alguns pacientes melhoram apenas com o acompanhamento psicológico, outros necessitam de medicação para reduzir a intensidade dos sintomas.
A instabilidade emocional do borderline pode dificultar o vínculo terapêutico. Contudo, a terapia cognitivo-comportamental tem se mostrado efetiva nesses casos. Os resultados são percebidos na melhora das habilidades sociais e das capacidades funcionais.
Para o profissional de saúde mental, é importante se especializar para saber identificar essa desordem, que ainda é comumente mal diagnosticada. O quadro pode ser confundido com outras doenças, como depressão e transtorno bipolar.
Pessoas com transtorno de personalidade borderline necessitam de ajuda especializada. É fundamental que seja realizada uma avaliação clínica aprofundada para definição correta do diagnóstico e do tratamento a ser feito.
Bem interessante esse assunto, não é mesmo? Temos outro post que você vai gostar de ler, sobre o que são as ciências cognitivas e por que estudá-las. Ficou curioso? Então, não perca essa leitura!
2 comentários em “Entenda o transtorno de personalidade borderline e suas causas”