Há quase dois anos, temos atravessado um período bastante delicado. Com o inesperado surgimento da pandemia do novo coronavírus, diversas medidas tiveram de ser rapidamente implementadas no intuito de atenuar a disseminação da doença que provocou uma verdadeira crise sanitária — e, dentre elas, o isolamento social se tornou uma das práticas mais recomendadas.
No entanto, diante da necessidade de permanecer a maior parte do tempo dentro da própria casa, as pessoas passaram a lidar com outras questões, como a adoção de novos hábitos potencialmente prejudiciais. A hiperconectividade é um deles. O termo — que será mais detalhadamente definido no próximo tópico — refere-se à hiperconexão tecnológica.
A grande questão é que, embora a tecnologia possa representar uma grande aliada, em excesso, também pode provocar um sem-número de prejuízos em diversos âmbitos da vida de um indivíduo. Pensando nisso, nós elaboramos este post para explicar melhor o que se pode entender por hiperconectividade, como ela se relaciona com a ansiedade e quais orientações podem ser repassadas a pacientes que enfrentam esse quadro. Confira!
O que é a hiperconectividade?
Inicialmente, há que se destacar que inexiste uma definição oficial. Entretanto, especialistas costumam empregar o termo para se referir à necessidade de estar conectado a todo momento — ou, mais especificamente, para tratar dos prejuízos que a prática pode gerar.
Os debates sobre o assunto vêm ganhando cada vez mais espaço nos últimos tempos. Inclusive, há quem diga que a hiperconexão tem efeitos similares aos de uma droga: quanto mais conectados estamos, mais conectados queremos estar. Além disso, nesse casso, a falta de acesso à internet é equiparada à abstinência, podendo resultar em crises.
Muitos profissionais do campo da saúde mental afirmam que os indivíduos que “sofrem de hiperconexão” lidam com certa “angústia social”. Ou seja, quando estão fora do universo digital, eles sentem que estão perdendo algo importante, experimentando nervosismo, oscilações de humor e, em quadros de maior gravidade, até mesmo ansiedade e depressão.
Qual é a sua relação com o surgimento de transtornos, a exemplo da ansiedade?
Inegavelmente, vivemos uma era digital, em que tudo parece — e talvez, de fato, seja — acessível na palma das nossas mãos. Porém, ainda que toda essa comodidade tenha trazido mais praticidade ao cotidiano, esse excesso de estímulos e o consumo desenfreado de conteúdos diversos pode não apenas gerar mais estresse, mas, também, como dito, causar ansiedade.
A razão para tanto abarca os fatores relativos à hiperconectividade que acabam por colaborar para a deterioração da nossa saúde mental. A seguir, exemplificamos alguns para facilitar a compreensão.
Solidão
Na sua obra “Juntos separados: Por que esperamos mais da tecnologia e menos uns dos outros?” — tradução livre do título original “Alone Together: Why we expect more from technology and less from each other” —, Sherryl Turkle, uma psicóloga americana, aborda os problemas provenientes da hiperconexão. Ela afirma que os dispositivos eletrônicos passaram a ocupar um vazio com o qual as pessoas não mais sabem lidar.
Sendo assim, os períodos de solidão são, agora, “preenchidos” com a navegação nas redes. Contudo, ainda que pareça inofensivo, esse hábito pode gerar a inabilidade de ficar só, impactando negativamente a nossa capacidade de autoconhecimento.
Insatisfação com a vida ao redor
Recentemente, o Instagram, que é uma das maiores mídias da atualidade, retirou a funcionalidade de contagem de likes da plataforma, passando a oferecer a opção de o usuário tê-la visível para si ou não. A motivação para tal alteração está relacionada às frequentes suposições que vinham surgindo acerca dos impactos da rede social sobre a (in)felicidade dos usuários.
Corpos “dentro do padrão”, viagens luxuosas, vidas perfeitas — a fórmula de resultado inatingível tem o potencial de tornar as pessoas obcecadas. Logo, aqueles que passam longos períodos consumindo esse tipo de conteúdo podem desenvolver uma expressiva insatisfação com a própria vida, mesmo que fundamentada em algo irreal.
Saturação dos estímulos
A hiperconectividade não permite que tenhamos momentos de “respiro”. Somos bombardeados todo o tempo com notícias ruins que são disseminadas em uma velocidade aceleradíssima pelas redes sociais, o que colabora para que nos tornemos indivíduos paranoicos.
Como consequência, surgem os devaneios. O mundo realmente se tornou tão violento ou apenas se trata de um recorte originado no universo digital? O fato é que quando não há tempo para que tenhamos a chance de digerir os acontecimentos da vida real e os excessivos estímulos das mídias, nós caminhamos para a saturação. Com isso, cada vez mais, passamos a estar perto de um esgotamento mental.
Como orientar os pacientes a reduzirem a hiperconectividade?
Sabemos que a tecnologia não vai a lugar algum. Sendo assim, para superar verdadeiramente o problema, é fundamental que você reforce para o paciente o quanto é importante que o trabalho seja colaborativo. É essencial que sejam adotadas ações no sentido de utilizá-la de forma saudável e moderada, e algumas boas práticas que podem ser sugeridas estão elencadas a seguir:
- oriente-o a desconectar-se mais frequentemente, por exemplo, programando-se para ler um livro, fazer uma caminhada, levar o pet a um passeio ou qualquer outra atividade prazerosa e que dispense o uso de smartphones e similares;
- sugira a desativação das notificações, assim, ele diminuirá as chances de surgir aquela vontade de checar a tela do celular a cada minuto;
- estimule-o a relaxar, adotando técnicas que combatem a ansiedade proveniente da hiperconectividade, como exercícios respiratórios, meditação, mindfulness, atividades físicas etc.;
- incentive-o a planejar pausas tecnológicas e, durante tais períodos, desligar os dispositivos eletrônicos ou, pelo menos, deixá-los fora do alcance.
A verdade é que, por si só, o hábito de conectar-se à internet com alguma regularidade não é prejudicial. A prática passa a ser um problema com o potencial de gerar transtornos de maior gravidade quando se torna excessiva — como quase tudo na vida, que, em demasia, geralmente não é positivo. Sendo assim, é fundamental que você, como psicólogo, tenha um olhar sensível e atento para identificar circunstâncias que indicam que o paciente está altamente imerso no universo digital a ponto de gerar prejuízos na vida fora do meio virtual.
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