Não é incomum que, por exemplo, diante da demora de uma pessoa querida a voltar para casa, alguns pensamentos pessimistas permeiem a mente: “Será que ela se envolveu em um acidente?”, “Algo ruim deve ter acontecido” etc. — principalmente se, por coincidência, não conseguirmos contatá-la.
Embora isso seja até compreensível, diante da realidade em que vivemos atualmente, quando pensamos constantemente em coisas negativas, é possível que surjam consequências mentais e físicas, como transtornos de ansiedade e ataques de pânico, prejudicando significativamente a qualidade de vida.
Então, você, como profissional da Psicologia, deve estar atento aos principais sinais que indicam que um paciente apresenta uma tendência a pensar nas piores hipóteses como desfecho de uma situação.
Para ajudá-lo nisso, elaboramos um guia superinteressante sobre o pensamento catastrófico que vai ajudar, inclusive, a entender como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode se tornar uma aliada para lidar com o problema. Continue a leitura!
O que são pensamentos catastróficos?
De maneira geral, quando nos referimos a catástrofes, o que logo vem à nossa mente são acontecimentos “carregados” de desgraça, a exemplo de desastres naturais e acidentes ou qualquer outro evento que tenha uma enorme proporção e um desfecho infeliz.
No entanto, essas características são as mesmas que definem os pensamentos catastróficos, quando eles se tornam parte da nossa percepção do mundo.
Ou seja, em termos simples, podemos conceituá-los como pensamentos que envolvem situações futuras negativas relacionadas a tudo que é importante para o indivíduo, como a família, o emprego, as finanças etc.
Nesse caso, pode-se dizer que se trata de uma distorção mental da realidade ao entorno que coloca o paciente em uma contínua sensação de ansiedade — ou até depressão —, atrapalhando o seu cotidiano e causando um mal-estar físico.
Inclusive, normalmente, quem convive com altos níveis de ansiedade tende a apresentar pensamentos catastróficos, que costumam se manifestar de duas formas.
A primeira ocorre quando há uma ampliação ou uma maximização de um cenário negativo ou de uma dificuldade. A segunda, por sua vez, acontece quando o olhar, ao se voltar para o “horizonte”, apenas visualiza os piores contextos para os problemas que estão sendo enfrentados.
Quais são as suas principais consequências?
Uma das consequências mais negativas de “nutrir” esse tipo de pensamento é o sofrimento emocional, já que o medo, a ansiedade, o pessimismo, a alta exigência e a raiva acabam por ser alimentados. É comum, até mesmo, que as pessoas que estão ao redor do paciente o apontem como alguém que tem um olhar negativo sobre todas as coisas.
É como se a mente roteirizasse um filme completo, uma série de eventos sequenciais, no qual todos são ruins ou têm um elevado potencial destrutivo. Então, o paciente age como se fosse necessário se martirizar com a própria capacidade imaginativa.
Além disso, o fato de essas ideias surgirem está altamente associado a um humor danificado — um estado de espírito que leva o indivíduo a fantasiar sobre o pior.
Por outro lado, de maneira quase imperceptível, a pessoa se torna extremamente exigente, de modo que tudo precisa estar perfeito — ou o caos se aproximará. Sob a sua ótica, ou as pessoas à volta são “impecáveis” ou exercem uma influência prejudicial.
Com isso, o paciente vai se tornando um “eterno insatisfeito”, que se desilude com tudo antecipadamente e rejeita a imperfeição da realidade.
A origem do pensamento catastrófico
Como dito, existe uma espécie de “roteiro” por trás do pensamento catastrófico. Ou seja, existe um esquema de pensamento que se repete continuamente, como um meio de expressar a ansiedade e/ou a depressão.
Esse tipo de estado mental alimenta e nutre a si mesmo, lembrando uma “bola de neve”, crescendo e se tornando invasivo. Assim, o catastrofismo é uma das suas manifestações.
Em alguns pacientes, o pensamento catastrófico se torna, até mesmo, um mecanismo de defesa, como se já pensar o pior os permitisse sentir alívio quando, no fim, o cenário pouco provável realmente não acontece.
De algum modo, eles sentem que os pensamentos negativos os protegem da dor e do desapontamento. Trata-se, nesses casos, de uma fuga do futuro, mas que acaba por gerar um quadro desnecessário de grande angústia.
Quais são as características dos pensamentos catastróficos?
A característica mais marcante dos pensamentos catastróficos é que eles não são baseados na identificação de riscos reais, mas, na verdade, são sustentados de maneira praticamente exclusiva pelo plano fantástico ou imaginário. Em termos simples, as ameaças, os danos e os perigos visualizados são basicamente impossíveis ou, pelo menos, improváveis.
Um paciente que está dominado por esse tipo de pensamento pode ter a sensação de que o seu o batimento cardíaco está muito acelerado e, por exemplo, imediatamente associar esse fato ao início de um ataque cardíaco ou percebê-lo como um claro sinal de que está envelhecendo a largos passos — em vez de relacionar o evento ao consumo recente de um café ou a uma caminhada acelerada que fez nos últimos cinco minutos.
Ou seja, um catastrofista sempre optará pela pior de todas as opções ao imaginar o futuro. Outro ponto que vale ser ressaltado é a “divisão” dos pensamentos catastróficos em tipos. Podemos descrevê-los assim:
- pensamento do tipo “tudo ou nada”: quando o indivíduo tem o hábito de pensar em extremos, por exemplo, “não consigo sobreviver sem, no mínimo, oito horas de sono”;
- afirmações que envolvem culpa: quando esse sentimento surge, o paciente faz algo que não planejava fazer, por exemplo, “eu não deveria ter dormido durante à tarde, pois agora não vou mais conseguir dormir à noite”;
- pensamentos que “saltam” para conclusões: quando o indivíduo prevê resultados negativos, por exemplo, “não dormir bem está abalando minha produtividade, então vou ser demitido”;
- pensamentos de excessiva generalização: quando o paciente generaliza um padrão, por exemplo, “eu estou com dificuldade para adormecer hoje à noite, então certamente passarei a noite em claro”;
- raciocínio emocional: quando o indivíduo aceita as suas emoções como um fato, por exemplo, “eu acordei me sentindo cansado, então ficarei estressado e mal-humorado o dia inteiro”;
- pensamentos que desqualificam o positivo: quando o paciente rejeita as boas experiências, por exemplo, “eu fiquei acordado por duas horas ontem à noite, então meu dia será terrível”.
Como ajudar um paciente catastrofista a “driblar” esses pensamentos?
Uma boa prática para enfraquecer essa maneira de pensar é manter o olhar para a realidade, já que uma das características do pensamento catastrofista, como dito, é a ausência de fundamentação no reconhecimento de riscos reais.
No entanto, existem outras dicas-chave que podem ser repassadas ao paciente para auxiliá-lo, como as elencadas a seguir.
Oriente a praticar regularmente atividades físicas
O cuidado com o corpo, sem dúvida alguma, reflete na saúde mental. Sendo assim, além de a prática de exercícios físicos ser excelente para o adequado funcionamento do organismo humano e para a saúde — de maneira geral —, ela eleva a sensação de prazer, aumenta a disposição e melhora o humor, já que ocorre a ativação de produção de inúmeros neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina.
Incentive a se manter próximo àquilo que é positivo
O ideal é que o paciente fuja, por exemplo, de programas de TV violentos e/ou sensacionalistas, optando, então, por um filme ou uma série de comédia. Além disso, vale a pena estimulá-lo a adotar hábitos mais positivos, como conversar com pessoas alegres, brincar com o pet, ouvir músicas animadas etc.
Oriente-o a evitar o máximo possível coisas, situações e até pessoas negativas, que possam “perturbar” a mente dele. O mais indicado é incentivá-lo a procurar absorver os momentos felizes dos seus dias, por mais simples que sejam.
Estimule a anotar tudo
Uma boa atitude que o paciente pode adotar quando um pensamento catastrófico vier à mente é parar, respirar fundo e anotar tudo o que pensou. Depois disso, vale a pena listar os motivos que o levaram a imaginar aquele cenário negativo e, em seguida, escrever alternativas positivas aos pensamentos iniciais.
Ao fazê-lo, ele terá a chance de perceber que uma boa parcela dessas percepções não tem fundamento e que não é necessário sofrer por antecipação em razão de algo incerto e que, provavelmente, está longe de ter relação com o roteiro pessimista imaginado.
Ensine a distinguir fato de opinião
Por mais simples que pareça, é muito importante que o paciente consiga diferenciar o que é fato do que é uma opinião, afinal, o fato é algo imutável — que ele pode, por exemplo, ter lido, ouvido ou visto. A opinião, por outro lado, é um julgamento, um juízo de valor, logo, pode variar de pessoa para pessoa.
Como os fatos são consumados (ou seja, já aconteceram), não há razão para se preocupar com eles, pois o passado também é imutável. Já as opiniões têm um potencial mais “perigoso” e, por isso, é fundamental que o indivíduo saiba reconhecê-las.
Como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode ser uma aliada para lidar com os pensamentos catastróficos?
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é um tipo de abordagem da Psicologia que entende que os pensamentos, os comportamentos e os sentimentos humanos estão todos interligados, de maneira que um afeta o outro em um ciclo sem fim.
Trata-se, então, de uma psicoterapia estruturada que é direcionada para o momento presente, voltada à resolução de problemas atuais e à mudança de condutas e pensamentos disfuncionais, que são prejudiciais ou inadequados.
Para a TCC, a cognição — que é a forma como nós pensamos e interpretamos os eventos à nossa volta — exerce uma expressiva influência sobre a maneira como agimos. Assim, cada pessoa tem uma condição de vida e uma história distinta, e isso a leva a vivenciar e a sentir os problemas e as situações de modo diferente.
Nesse sentido, a abordagem se propõe a convidar o paciente a uma reflexão acerca de tudo que ele pensa, pois nem todos os pensamentos são realmente verdadeiros.
O pensamento catastrófico, como vimos, é uma espécie de previsão negativa do futuro, quando não se leva em consideração outros desfechos mais prováveis. Nesse caso, como são pensamentos muito rápidos, o psicólogo pode ter dificuldade de identificá-los, especialmente quando o paciente já evoluiu para um quadro de transtorno de ansiedade.
No entanto, quando esse padrão prejudicial da percepção é reconhecido, leva o nome de “distorção cognitiva”. Essa última representa um padrão disfuncional de pensamento que leva o indivíduo a enxergar tudo sob uma ótica negativa, o que gera reflexos nos seus sentimentos e nas suas condutas.
Durante as sessões, você poderá perceber que, nos relatos, haverá constantemente a presença de “e se” — por exemplo: “E se eu morrer (…)”.
O tratamento
Nesse contexto, a Terapia Cognitivo-Comportamental se revela uma excelente abordagem para o tratamento dos pensamentos catastróficos, pois visa a correção dessas distorções cognitivas que acabam favorecendo as evitações e o medo, apresentando bons resultados em médio e longo prazo.
Os recursos comportamentais adotados, inclusive, previnem eventuais recaídas, reduzindo os níveis de ansiedade e ajudando o paciente a lidar melhor com os pensamentos e os eventos temidos, o que impacta diretamente a sua qualidade de vida.
O psicólogo cognitivo-comportamental, em regra, dispõe de um repertório de técnicas que auxiliam na correção da distorção catastrófica, como:
- reestruturação cognitiva: quando o profissional e o paciente trabalham de forma colaborativa para ressignificar e transformar os pensamentos disfuncionais que geram sofrimento emocional. Assim, eles constroem juntos crenças mais saudáveis e alinhadas com a realidade, e o indivíduo se torna capaz de modificar a sua perspectiva de vida, reformulando o modo como interpreta as novas experiências. Nesse caso, o terapeuta não invalida o pensamento do paciente, mas, sim, oferece estímulos para que ele os questione e avalie a sua validade;
- descoberta guiada: quando o psicólogo auxilia o paciente a reconhecer as principais cognições e, a partir disso, a adotar perspectivas que sejam mais adaptativas e realistas, levando-o a se sentir emocionalmente melhor e, comportando-se, inclusive, de maneira mais funcional;
- ênfase no positivo: a Terapia Cognitivo-Comportamental enfatiza o positivo, convidando o indivíduo em tratamento a examinar as próprias experiências de outra forma, de modo que facilite o reconhecimento de informações positivas.
Como vimos, o pensamento catastrófico é, basicamente, um pensamento “falso” que as pessoas assumem sobre si mesmas e sobre o mundo à sua volta, geralmente baseado em crenças irracionais que levam ao sofrimento emocional.
No entanto, a TCC tem demonstrado uma grande eficácia no tratamento de uma amplitude de transtornos, incluindo as distorções cognitivas, ajudando os pacientes na mudança de perspectiva.
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