Com sintomas e condutas, por vezes, similares, não é incomum que os profissionais de Psicologia — mesmo os mais experientes —, em alguns momentos, confundam as características que determinam o diagnóstico do transtorno borderline, do transtorno bipolar e de psicoses em geral, já que são todos distúrbios mentais distintos. Contudo, o correto reconhecimento é fundamental não somente para a escolha da abordagem ideal, mas também para a definição da melhor linha de tratamento para o paciente acometido.
Por esse motivo, em razão da relevância da temática, neste post, abordaremos cada um dos distúrbios e as suas respectivas particularidades, ressaltando as diferenças entre eles. Continue a leitura e tenha domínio do assunto!
O que é o transtorno borderline?
Também chamado de síndrome de borderline, como o próprio nome já sugere, trata-se de um transtorno que está situado “na borda” — nesse caso, na borda entre a psicose e a neurose. Outros nomes dados ao distúrbio são transtorno de personalidade borderline e transtorno de personalidade limítrofe, já que os pacientes acometidos, geralmente, apresentam súbitas alterações de humor, descontrole emocional, comportamentos autodestrutivos e impulsivos, compulsões, deturpação da própria imagem e outros sintomas mais.
Além disso, esses indivíduos passam costumeiramente por episódios bastante intensos de ansiedade, raiva e depressão, enfrentando também uma grande dificuldade em estabelecer laços — fato que torna as suas relações muito instáveis. Uma das principais questões que motivam a confusão do transtorno borderline com o transtorno bipolar é a expressiva alteração entre os humores. No entanto, na CID, que é a Classificação Internacional de Doenças, o primeiro é listado como um transtorno de personalidade, enquanto o segundo está na categoria de transtornos afetivos do humor.
Nesse sentido, também é bastante válido ressaltar que, na síndrome de borderline, as variações se dão entre períodos de euforia extrema e de melancolia profunda, não havendo “prévio aviso” ou qualquer regularidade. Já o transtorno bipolar segue o que é chamado de “ciclo circadiano do humor”. Assim, o paciente pode despertar triste e sem energia e, ao longo do dia, apresentar uma melhora. A bipolaridade, na verdade, tem os seus dois polos nos quais se divide bem definidos — o polo da mania e o polo depressivo. Ademais, eles costumam “durar” algumas semanas ou até alguns meses. Falemos, então, agora, da bipolaridade.
O que é o transtorno bipolar?
Como mencionado, a bipolaridade é classificada como um transtorno de humor — e não de personalidade, como a síndrome de borderline. São vários os tipos que estão catalogados nos manuais psiquiátricos, mas um ponto a ser ressaltado é que a personalidade do indivíduo acometido não é integralmente afetada, o que também o difere do transtorno borderline.
Ou seja, quando “sai da crise”, o paciente pode, sim, ter o discernimento de que estava em tal condição. É possível dizer que a “essência” da personalidade da pessoa é protegida. Contudo, o transtorno bipolar vai além de um distúrbio que implica meras oscilações de humor, envolvendo duas fases principais, também já brevemente abordadas:
- a fase depressiva: nesse estágio, é possível, até mesmo, que o paciente chegue à catatonia, quando o indivíduo nem mesmo consegue levantar de sua cama, permanecendo imóvel e, por vezes, com a fala “suspensa”. Durante esse período, são comuns episódios de melancolia, delírios e alucinações — de ruína, hipocondríacos etc. — e até ideações suicidas;
- a fase maníaca: nessa etapa, geralmente, ocorre o oposto. O paciente fica eufórico, com os pensamentos acelerados, e apresenta comportamentos compulsivos, seja com relação a gastos, ao consumo de bebidas ou de alimentos, à prática de sexo, ao trabalho etc. Além disso, o indivíduo pode tanto estar bem-humorado quanto extremamente irritável, podendo, nesse caso, ter crises intensas de agressividade e de raiva.
Nesse polo da mania, é possível que haja também delírios e alucinações, mas, nesse caso, geralmente são relativos a questões grandiosas, de modo que o paciente, por exemplo, acredita ser “escolhido” por uma entidade religiosa superior, como Deus, ou que é rico. Além disso, os erotomaníacos (quando o indivíduo pensa que todos o amam e o desejam) e os persecutórios (quando ele acredita que determinada pessoa o odeia e que ele pode, até mesmo, ouvir os seus pensamentos negativos a seu respeito) também podem surgir durante essa fase.
A bipolaridade, por fim, pode ou não fazer parte do quadro de psicoses, a depender da presença ou não de alucinações e delírios. O transtorno tem um prognóstico mais favorável e, comumente, os medicamentos para a estabilização do humor são eficazes. Agora, abordaremos, então, as psicoses em geral.
O que são as psicoses em geral?
Chegamos às psicoses em geral — mais uma vez, vale destacar que, quando há presença de alucinações e delírios, o transtorno bipolar pode ser incluso nessa classificação. Contudo, além dele, podemos também citar como distúrbios enquadrados dessa maneira as esquizofrenias e as paranoias. Vamos, então, a elas!
A maior questão de ambas (e que as difere também do transtorno bipolar e do transtorno borderline) é que, por exemplo, ao contrário da bipolaridade, a partir do início do desenvolvimento de uma crise psicótica ou de um surto, o indivíduo não mais apresenta a personalidade tal qual ela era antes. Ou seja, trata-se, nesse caso, de uma condição que não “protege” a essência da personalidade do paciente — após a crise, tudo muda.
Além disso, é extremamente comum que os paranoicos, em um determinado momento da vida, sofram uma espécie de “ruptura” com a realidade ao entorno. Como exemplo, podemos citar algo que foi visto e, desde então, já não pôde ser “desvisto” e nada mais voltou a ser como era. A lista de possíveis eventos desencadeadores é extensa, e cada caso é único, singular. Contudo, alguns fatores comuns são:
- a perda de algo ou de alguém muito importante;
- a ocorrência de um trauma psicológico;
- o uso de alguma substância psicoativa etc.
Ademais, há que se dizer que uma das distinções mais notáveis entre a esquizofrenia e a paranoia é que, na segunda condição, a “ameaça” é externa, enquanto na primeira, o corpo do paciente deixa de formar uma unidade, havendo uma relação de desapropriação. Isso pode gerar, por exemplo, os mais diversos tipos de alucinações, como visuais, audíveis, táteis etc. Basicamente, um paciente esquizofrênico é “invadido” por algo que o acomete, desapropriando-o de si mesmo.
Em ambas as condições, o prognóstico é bem reservado e, embora as medicações possam ser eficazes, são limitadas. O mesmo vale, inclusive, para o acompanhamento psicológico, que demanda uma grande cautela por parte do profissional.
Como você pôde ver, ainda que o transtorno borderline, o transtorno bipolar e as psicoses em geral, por vezes, tenham sintomas comuns ou similares, um olhar treinado é capaz de identificar de que condição se trata e, assim, de selecionar a abordagem ideal para o tratamento mais conveniente ao quadro clínico. Embora os anos de experiência possam trazer essa capacitação, uma especialização em uma instituição que seja referência em ciências cognitivas o tornará apto a reconhecer cada um dos distúrbios e, desse modo, optar pela linha terapêutica mais indicada.
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