Como tratar a Síndrome das Pernas Inquietas?

12 minutos para ler

Conhecida também como doença de Willis-Ekbom, a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) é uma condição neurológica que provoca uma vontade incontrolável de se manter em movimento para atenuar uma sensação de desconforto.

Normalmente, essa movimentação involuntária acontece quando o indivíduo está em repouso ou dormindo, o que atrapalha significativamente a qualidade do seu sono.

A condição — que se torna mais comum com o avançar da idade — tende a afetar mais mulheres e, de forma geral, ainda que a causa não seja bem compreendida, o diagnóstico é baseado nos sintomas.

Quer entender mais a fundo o que é a Síndrome das Pernas Inquietas, quais são os sintomas associados ao distúrbio, entre outros aspectos relevantes? Continue a leitura do nosso post!

O que é a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI)?

A Síndrome das Pernas Inquietas é compreendida como um distúrbio sensitivo-motor que atinge, predominantemente, as pernas — embora, em casos de maior gravidade, os membros superiores também possam ser afetados.

A SPI é vista como uma condição bastante peculiar, já que, via de regra, os pacientes sentem um “desejo irresistível” de movimentar os membros inferiores e acabam por fazê-lo de modo involuntário.

Como essa urgência comumente surge nos períodos de repouso, à noite (e, geralmente, é acompanhada por sensações desagradáveis, como queimação, fisgadas e formigamento), a SPI é considerada um distúrbio do sono.

Os pacientes que convivem com o problema costumam enfrentar mais dificuldades para adormecer, acordam mais vezes ao longo da noite e, consequentemente, dormem menos horas do que o necessário para um sono reparador.

Assim, não é incomum que eles apresentem sonolência excessiva durante o dia, comprometendo significativamente a sua qualidade de vida.

Quais são os sintomas mais comumente associados à condição?

Os principais sintomas da Síndrome das Pernas Inquietas envolvem:

  • desconforto nos membros inferiores: que, inclusive, são normalmente descritas pelos pacientes como coceiras, queimação, arrepios, formigamento, pontadas, dores e incômodos similares;
  • necessidade de movimentar as pernas: para que os pacientes consigam aliviar as sensações desagradáveis que levam ao desconforto, eles têm uma necessidade incontrolável de mover as pernas, mesmo quando estão deitados ou sentados;
  • interrupções do sono ao longo da noite: em muitos casos, os pacientes levam muito mais tempo para adormecer em razão desse desejo incontrolável e praticamente involuntário de movimentar os membros inferiores e, além disso, não é incomum que despertem várias vezes ao longo da noite;
  • problemas comportamentais na hora de dormir: em razão do desconforto sentido, alguns pacientes podem relatar que sentem a necessidade de se levantar da cama para “esticar as pernas” e atenuar o incômodo;
  • sonolência diurna: afinal, a qualidade do sono é severamente comprometida na maior parte dos casos;
  • impactos negativos na produtividade e no desempenho no dia a dia: pois, mais uma vez, em razão das interrupções do sono ao longo da noite, o paciente não dorme o suficiente, o que provoca quadros de mau humor, baixa capacidade de concentração e irritabilidade, inclusive afetando o desempenho nas tarefas diárias, por exemplo, no trabalho.

É interessante pontuar que a intensidade dos sintomas associados à Síndrome das Pernas Inquietas pode variar — de leve a grave — e, com a movimentação dos membros, tende a diminuir.

Além disso, o tabagismo e o consumo excessivo de café podem piorá-los. Sendo assim, há casos em que a SPI não traz malefícios ao cotidiano dos pacientes, mas, em outros, torna-se necessário haver um acompanhamento médico para manter os sintomas sob controle.

Quais são as principais causas da Síndrome das Pernas Inquietas?

Segundo o National Institute of Neurologial Disorders and Stroke, nem sempre é possível identificar com clareza os fatores que desencadeiam a Síndrome das Pernas Inquietas. Portanto, o ideal é que o paciente busque uma avaliação completa com um profissional da área da saúde para avaliar o seu histórico e o quadro atual.

Às vezes, o médico pode identificar alguns problemas de saúde relacionados à condição, como os elencados a seguir.

Insuficiência de ferro

O ferro exerce um papel extremamente importante no organismo humano, pois participa da comunicação que se estabelece entre as células do cérebro. Quando em quantidade insuficiente, pode desencadear a Síndrome das Pernas Inquietas.

Em casos assim, o médico provavelmente vai avaliar a presença desse nutriente por meio de exames laboratoriais e, se necessário, orientará o paciente a suplementá-lo para atenuar os sintomas da condição.

Diabetes

O diabetes é uma condição metabólica bastante complexa e com o potencial de causar danos severos aos nervos e aos vasos sanguíneos — afetando, inclusive, os grupos musculares dos membros inferiores, provocando a Síndrome das Pernas Inquietas.

Portanto, os pacientes que convivem com o diagnóstico de diabetes devem ter um olhar mais atento nesse sentido, já que, além de manter a doença controlada, prevenirão eventuais efeitos neurológicos.

Gestação

Não é incomum que, por volta do último trimestre da gestação, mulheres apresentem a Síndrome das Pernas Inquietas — muito provavelmente em razão de uma deficiência nos níveis de ácido fólico. No entanto, em geral, os sintomas associados à condição desaparecem aproximadamente um mês após o parto.

Uso de medicamentos

Também é importante pontuar que os pacientes que fazem uso de anti-histamínicos, antidepressivos, sedativos, antipsicóticos e antieméticos têm uma tendência maior a desenvolver a SPI.

Hábitos diários inadequados

Além do consumo de cafeína e do tabagismo já mencionado, a ingestão de álcool é outro hábito que pode interferir de maneira negativa no funcionamento adequado do sistema nervoso, desencadeando a Síndrome das Pernas Inquietas.

Além disso, outras condições, a exemplo da apneia do sono — e circunstâncias de privação — podem agravar ou levar ao surgimento dos sintomas em algumas pessoas.

Como é feito o diagnóstico?

Como dito, normalmente, o diagnóstico se baseia em exames clínicos e no relato dos sintomas feito pelo paciente. Nesse sentido, a manutenção de uma espécie de “diário” que retrate os desconfortos sentidos pode ser de grande avalia, auxiliando na avaliação médica.

Além disso, é possível que seja necessário que o paciente se submeta a exames para excluir outras possíveis causas que poderiam ser associadas às mesmas sensações ou, até mesmo, para investigar mais a fundo uma condição subjacente que possa ter causado a Síndrome das Pernas Inquietas.

Como acontece o tratamento para a Síndrome das Pernas Inquietas, na maior parte dos casos?

Inicialmente, há que se destacar que não existe uma “cura” para a Síndrome das Pernas Inquietas. No entanto, é possível que o paciente adote algumas boas práticas que trarão alívio para os sintomas mais comuns da condição, o que geralmente acontece com a utilização de técnicas de relaxamento e/ou com a ingestão de remédios adequadamente prescritos.

Geralmente, o ponto de partida é revisar as medicações que o indivíduo vem administrando, como antidepressivos, antipsicóticos e outras que provocam o bloqueio da dopamina e que, conforme vimos, podem representar uma causa oculta do distúrbio.

Outro ponto igualmente relevante é analisar os hábitos alimentares do paciente, a fim de que alguns cuidados sejam tomados — por exemplo, evitar o consumo de alimentos e de bebidas que sejam estimulantes, como o café e o álcool, já mencionados.

Além disso, é indispensável que o profissional de saúde busque identificar se há quaisquer outras alterações na saúde do indivíduo que possam colaborar para o surgimento e/ou a piora dos sintomas, como alterações na tireoide, anemia, diabetes etc. Se esse for o caso, é imprescindível que um tratamento para a condição seja iniciado.

Em casos de maior gravidade, quando o desconforto gerado pela Síndrome das Pernas Inquietas se torna muito intenso, prejudicando expressivamente a qualidade do sono, é possível recorrer ao tratamento medicamentoso, que pode incluir o uso de:

  • Agonistas da Alfa 2, que geram estímulos dos receptores de alfa 2 na região cerebral, o que ocasiona o “desligamento” da parte do sistema nervoso que é responsável pelo controle involuntário dos grupos musculares, atenuando, assim, os sintomas da SPI;
  • Benzodiazepinas, que são sedativos que ajudarão o paciente a adormecer com mais facilidade, mesmo que alguns dos sintomas da SPI permaneçam presentes;
  • Agonistas da dopamina, que, via de regra, representam a primeira alternativa de tratamento da Síndrome das Pernas Inquietas, pois agem como o neurotransmissor dopamina, reduzindo a intensidade do desconforto.

No entanto, as possibilidades não cessam aí, já que outras abordagens podem ser de grande valia para o alívio dos sintomas da SPI.

Como a síndrome — a depender do nível de gravidade — pode afetar exponencialmente a qualidade de vida do paciente, o diálogo pode representar um excelente recurso para a manifestação dos sentimentos, haja vista que o suporte e o enfrentamento são extremamente importantes para que o indivíduo se fortaleça perante a condição.

Nesse sentido, o profissional de Psicologia desempenha um papel bastante relevante, já que pode auxiliar o paciente a desenvolver técnicas que o ajudarão a conviver com o distúrbio, como:

  • iniciar o dia praticando atividades físicas e finalizá-lo com um alongamento;
  • anotar diariamente como foram as suas noites de sono, facilitando o acompanhamento médico e a avaliação de uma possível melhora a partir da introdução do tratamento medicamentoso, por exemplo;
  • não se opor à necessidade de movimentar os membros, já que evitar fazê-lo pode piorar a situação — ou seja, orientar a se movimentar quando sentir vontade;
  • não esconder a condição de familiares e/ou amigos, mesmo porque o compartilhamento de informações sobre a Síndrome das Pernas Inquietas ajudará a compreender mais facilmente o estado psicológico do indivíduo;
  • tentar ao máximo manter bons hábitos de sono, evitando, por exemplo, assistir TV ou ficar diante de outras telas, como a do computador, quando estiver se preparando para adormecer;
  • tentar dormir, pelo menos, por sete a nove horas, já que a privação do sono é outro fator que colabora para a intensificação dos sintomas da Síndrome das Pernas Inquietas;
  • aplicar uma compressa fria, uma almofada de aquecimento ou mesmo esfregar os membros inferiores para gerar um alívio — mesmo que temporário — do desconforto. Nesse mesmo contexto, algumas alternativas, como acupressão, massagem etc., também podem se revelar grandes aliadas;
  • diminuir os níveis de estresse tanto quanto possível, apostando, por exemplo, em yoga, meditação e em outras técnicas de relaxamento.

É necessário ressaltar que, em circunstâncias de maior complexidade, o tratamento medicamentoso — sempre prescrito e acompanhado por um profissional de saúde — pode envolver a administração de opiáceos, que são medicamentos muito fortes e normalmente indicados para o alívio de dores intensas, mas que também podem funcionar para aliviar os sintomas da Síndrome das Pernas Inquietas.

No entanto, é imprescindível que o seu uso seja supervisionado por um médico, já que os opiáceos podem gerar diversos efeitos colaterais e têm um potencial viciante.

O prognóstico

É válido ressaltar que o prognóstico após o diagnóstico da Síndrome das Pernas Inquietas pode variar bastante. Há pacientes que respondem de forma positiva aos tratamentos, de maneira que, com o passar do tempo, os sintomas vão diminuindo ou desaparecendo.

No entanto, aqueles que têm sintomas mais frequentes e/ou mais severos podem ter mais dificuldade em mantê-los sob controle.

Por que vale a pena investir em uma pós-graduação?

Embora a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) seja, em regra, tratada com a administração de medicamentos, especialmente nos casos mais graves, a verdade é que alguns dos sintomas, como dito, podem gerar um impacto negativo bastante expressivo na qualidade de vida de um indivíduo, desencadeando outras questões, como a alta irritabilidade.

Além disso, como se sabe, dormir bem e ter um sono verdadeiramente reparador é indispensável para o bom desenvolvimento das atividades do dia a dia.

Portanto, o cansaço gerado pela privação do sono pode “abrir as portas” para doenças que envolvem uma complexidade maior, como depressão, ansiedade e estresse.

Diante disso, é fundamental que os profissionais da área de Psicologia se mantenham em constante especialização, como uma pós-graduação, a fim de não apenas aprimorarem as suas práticas e/ou abordagens, mas também para calibrarem o seu olhar clínico, conseguindo identificar possíveis problemas subjacentes a partir dos relatos dos seus pacientes.

Como vimos, a Síndrome das Pernas Inquietas é caracterizada como um distúrbio que causa um grande desconforto e desencadeia uma vontade incontrolável de movimentar os membros inferiores.

Além disso, embora os neurologistas e os clínicos gerais, com base nos sintomas, sejam os profissionais aptos a diagnosticar o problema, é extremamente importante aliar o tratamento medicamentoso à terapia, especialmente quando a SPI provoca o surgimento de transtornos psicológicos.

Agora, aproveitando o gancho, que tal conferir também o nosso post que explica o quão fundamental é o lifelong learning para os psicólogos, que nunca devem parar de estudar? Vamos lá!

Posts relacionados

Deixe um comentário