As técnicas em terapia do esquema atraem profissionais de diversas abordagens psicoterápicas. Uma das razões dessa busca crescente é o fato de elas permitirem um eficiente tratamento para diferentes transtornos mentais, sobretudo àqueles pacientes resistentes à terapia cognitivo-comportamental mais clássica.
Para quem não conhece muito, cabe uma explicação: a terapia do esquema foi criada por Jeffrey Young e faz parte das terapias da terceira onda, sendo considerada de geração mais recente.
Com o objetivo de ajudar você a ficar por dentro dos detalhes, conversamos com Dr. Maurício Piccoloto, que explicou melhor como funcionam as técnicas em terapia do esquema e a maneira certa de aplicá-las. Acompanhe!
Quais são as diferenças entre a TCC e a terapia do esquema?
De forma resumida, a TCC de Beck tem foco em guiar o paciente para chegar à sua crença central. Portanto, analisa pensamentos, comportamentos e emoções, com o intuito de estabelecer a reestruturação cognitiva. Tende a ser mais breve, porém, bastante eficiente em diversos sintomas.
A terapia de esquema foi pensada para aqueles pacientes que não respondem muito bem à terapia cognitivo-comportamental. Muitas vezes, eles relatam entenderem, racionalmente, que não existem evidências para seus sentimentos e pensamentos persistirem, mas afirmam continuar sentindo alguma emoção.
“Ela reúne estratégias de tratamento cognitivas, comportamentais e vivenciais, proporcionando um acesso a aspectos emocionais do paciente, que outras abordagens isoladas podem não obter. As suas múltiplas influências a tornam acessível para profissionais que vêm de várias correntes psicológicas, e sua proposta de tratamento é coesa e cientificamente testada”, relata Maurício.
Para a terapia do esquema, o modo desadaptativo como levamos a vida se relaciona às necessidades básicas da infância que não foram preenchidas, por exemplo:
- vínculo seguro com os cuidadores e sentimento de ser aceito;
- autonomia, com a própria identidade valorizada;
- limites realistas durante o desenvolvimento;
- liberdade para se expressar e validação das emoções;
- permissão para espontaneidade.
Dessa forma, trabalha profundamente com as dores mais antigas, de modo a resgatar tais necessidades, atendê-las e minimizar o sofrimento que causaram. Essa prática é importante porque, para a teoria, as escolhas atuais que a pessoa faz remetem ao passado.
Por exemplo, quem cresce com a dor da rejeição pode passar a se envolver apenas com pessoas que deem sinais que não querem um comprometimento, pois isso confirma sua sensação de ser sempre abandonada.
Por fim, existem os estilos de enfrentamento — respostas comportamentais de uma pessoa aos esquemas. Entenda:
- contra-ataque — o paciente reage de modo violento e tem respostas extremas aos problemas cotidianos;
- abandono — a pessoa experimenta impotência cada vez que precisa enfrentar algo. É muito comum em casos de depressão;
- evitação — o indivíduo tenta escapar de suas responsabilidades e evita situações que ativem o esquema.
Quais são as principais técnicas em terapia do esquema?
O foco da terapia costuma ser em memórias, emoções, comportamentos e sensações corporais. Nas sessões, é frequente conversar sobre o passado e relembrar questões da infância.
As técnicas em terapia do esquema são integrativas e reúnem várias abordagens, como TCC, Gestalt, teoria do apego (Bolby), comportamental (Behaviorismo Radical), terapia emocional. Elas variam conforme os esquemas padrões de cada paciente e as necessidades que não foram atendidas. Algumas são:
- relação terapêutica — é um dos principais pontos da terapia do esquema. Um paciente com a sensação de rejeição, por exemplo, precisa sentir que seu terapeuta não o abandonará;
- questionários — perguntas e abordagens diversas, a depender do tipo de esquema;
- psicodrama — interpretações terapêuticas, a exemplo do método do espelho ou o da cadeira;
- experimentações — são feitas do mesmo modo que na TCC. Contudo, aqui, elas são aplicadas junto de outras técnicas;
- imagem mental — por exemplo, reviver situações nas quais as feridas emocionais aconteceram. A partir disso, colocar o próprio paciente como adulto saudável, observando a situação na qual se sentiu abandonado e fazer com que sua parte adulto saudável dê acolhimento àquela criança.
De que maneira as técnicas são estruturadas e como funcionam?
Maurício nos explica que o primeiro passo é fazer a conceituação do paciente, ou seja, realizamos as primeiras sessões e identificamos suas principais demandas e suas formas de pensar.
Porém, uma das grandes vantagens da terapia do esquema é ser bem flexível e ter suas técnicas estruturadas de forma diferente a cada paciente. “As estratégias incluem técnicas específicas para cada fase do tratamento e esquemas disfuncionais — cognitivos, vivenciais e comportamentais —, porém a estrutura não é rígida e há possibilidade de adaptação e alternância, de acordo com cada demanda”, afirma.
As técnicas, enfim, têm o objetivo de ajudarem o paciente a adaptar melhor os seus esquemas, fazendo com que tenha estilos de enfrentamento saudáveis. De modo geral, são mais eficientes na aplicação individual. Contudo, é possível obter ótimos resultados, também, quando aplicadas em casal ou em grupo.
Para quem essas técnicas são indicadas?
“A terapia do esquema, inicialmente, foi direcionada aos pacientes menos respondentes ao tratamento. Além disso, é considerada eficiente para muitos crônicos, como transtornos de personalidade, a exemplo do borderline. Contudo, também é indicada a diversas outras situações. Basta o profissional ter a devida qualificação para aplicá-la”, explica Maurício.
As técnicas em terapia do esquema também são aconselhadas àqueles pacientes nos quais notamos falas frequentes relacionadas à infância e aos seus pais. Porém, é importante o cuidado na hora de abordar questões muito difíceis, já que recordar situações doloridas e se aprofundar nelas pode levar o paciente a se sentir mais depressivo.
Um detalhe importante nessa intervenção é o psicoterapeuta estar bem resolvido em seus próprios conflitos pessoais. É recomendado que ele mesmo já tenha sido paciente na terapia de esquema e esteja em paz com acontecimentos da própria infância.
Dessa forma, aumentará seu grau de autoconhecimento para separar os efeitos psicológicos de seus esquemas dos do paciente. Assim, antes de ajudar alguém, ele precisa passar pela experiência de ter sido ajudado.
Enfim, as terapias de terceira onda estão se popularizando, pois se mostram bastante eficientes. As técnicas em terapia do esquema, por reunirem estratégias de diversas abordagens, conseguem lidar com questões e resolver demandas que seriam mais difíceis se utilizássemos apenas a TCC tradicional. Por isso, vale a pena buscar o aperfeiçoamento na área e enriquecer os conhecimentos profissionais.
Gostou do conteúdo? Caso tenha interesse em aumentar seu domínio nos atendimentos ou precise de informações sobre nossos cursos, é só entrar em contato!