4 aplicações da terapia cognitivo-comportamental: o guia completo

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1. Introdução

A Psicologia pode ser definida como a ciência que tem por objetos de estudo o funcionamento cerebral — abrangendo as emoções, os pensamentos, os comportamentos, o autocontrole, o raciocínio, a capacidade de julgamento etc. —, a subjetividade humana e as suas expressões. No campo, há um sem-número de abordagens teóricas e, em meio a elas, destaca-se a terapia cognitivo-comportamental (TCC).

O seu alcance e a sua influência têm se estendido progressivamente desde que foi desenvolvida pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck. Resumidamente, a premissa principal da TCC afirma que o modo como nós interpretamos as situações exercerá influência sobre as nossas condutas e as nossas emoções.

No entanto, quais são exatamente as suas principais aplicações? De que forma ela é trabalhada nos diversos quadros clínicos, como a depressão, a ansiedade, as fobias etc.? Mesmo para os graduados na área, muitas dúvidas acerca da abordagem são comuns e, neste e-book, o nosso intuito é buscar esclarecer as mais populares. Continue a leitura e domine o tema!

2. O que é a terapia cognitivo-comportamental e no que a abordagem trabalha?

Tendo como os seus pilares centrais a resolução de problemas e a reestruturação cognitiva, o modelo cognitivo, em termos simples, defende que um pensamento disfuncional tem o potencial de influenciar o humor e os comportamentos. Dessa forma, entende-se que a partir do momento em que os indivíduos aprendem a analisar a forma como pensam de modo mais adaptativo e realista, alcançam uma melhora expressiva no seu estado emocional.

No caso das intervenções direcionadas à reestruturação cognitiva, as crenças, os pensamentos e os pressupostos disfuncionais são os alvos. Já em se tratando daquelas focadas na resolução de problemas, o objetivo é o treino de habilidades mais específicas, como a comunicação assertiva, a regulação emocional etc.

Ou seja, pode-se dizer que a terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem psicoterapêutica orientada ao presente, sendo estruturada, integrativa, empática e sensível ao tempo. O seu propósito, em suma, é dar solução aos problemas atuais e ensinar os pacientes em tratamento a desenvolverem a capacidade de mudar atitudes e pensamentos disfuncionais — uma modificação que conduz à melhora do funcionamento pessoal.

2.1 O funcionamento da TCC

Inicialmente, é importante pontuar que a abordagem se baseia em uma máxima estoica que afirma que as ocorrências, em si, não são a causa do nosso sofrimento, mas, sim, os significados que são atribuídos a elas. Logo, a forma como as pessoas percebem uma determinada situação tem muito mais a ver com as suas próprias reações do que com o que propriamente aconteceu.

Nesse contexto, tais atribuições, especialmente quando são feitas de maneira automática — ou seja, não reflexiva —, podem ser disfuncionais ou não realistas. A partir disso, a conceituação cognitiva funciona como um “parâmetro integrador”.

Ao longo das sessões terapêuticas, diversas técnicas cognitivas são empregadas, a exemplo da identificação de pensamentos automáticos e de distorções cognitivas e da psicoeducação sobre o transtorno. Usualmente, os atendimentos iniciam com uma recapitulação dos eventos dos dias anteriores e das atividades executadas fora das sessões, que visam potencializar a aprendizagem nesses intervalos e estão associadas ao alcance de resultados positivos.

A definição dos pontos a serem abordados é feita da maneira colaborativa e, normalmente, o último tópico a ser trabalhado envolve uma discussão acerca das metas a serem atingidas até a sessão seguinte. Há solicitações de feedbacks frequentes e o atendimento se encerra com um sumário.

Em suma, essa estrutura incentiva a organização e o trabalho produtivo e diminui os níveis de ansiedade, servindo para orientar o paciente quanto às suas expectativas no que diz respeito ao tratamento. No entanto, é válido destacar que essa estrutura não é inflexível, de modo que modificações podem ser realizadas conforme as demandas de cada paciente e/ou situação.

3. Quais são as aplicações da terapia cognitivo-comportamental?

Antes de abordarmos efetivamente as aplicações da TCC, é interessante destacar que a abordagem segue alguns princípios básicos, de maneira que:

  • fundamenta-se em uma conceituação individual dos pacientes — em termos cognitivos — e no desenvolvimento contínuo dos seus problemas;
  • enfatiza a participação ativa e a colaboração;
  • demanda uma aliança terapêutica sólida;
  • tem foco nos problemas e orienta-se para os objetivos;
  • enfatiza o presente inicialmente — foca o aqui e o agora;
  • é educativa, buscando garantir que o paciente aprenda a ser terapeuta de si mesmo e é direcionada à prevenção de recaídas;
  • tem sessões estruturadas — a 1ª fase é composta da avaliação e do diagnóstico, a 2ª fase envolve a reestruturação cognitiva e a 3ª fase é reservada para intervenções com os esquemas;
  • emprega diversas técnicas com o propósito de modificar o humor, o pensamento e o comportamento;
  • ensina aos pacientes o modo de identificar, analisar e responder às suas crenças e aos seus pensamentos disfuncionais.

Essa abordagem teórica emprega técnicas fundamentadas em evidências científicas e tem protocolos de tratamento voltados a uma variedade de quadros clínicos, como a ansiedade, a depressão, as fobias, o transtorno bipolar etc. A seguir, veja de que forma a TCC é trabalhada em cada uma dessas situações.

3.1 Em quadros de ansiedade

Nos últimos tempos, a terapia cognitivo-comportamental vem se revelando uma das melhores alternativas para o tratamento de transtornos de ansiedade. Com uma abordagem diretiva e bem estruturada — como já mencionado — e atuação do paciente diretamente no próprio processo de tratamento, o objetivo da TCC é promover o protagonismo do paciente, favorecendo o desenvolvimento da sua autonomia para lidar com os problemas de modo saudável.

Nesse contexto, é imperativo que o psicólogo assuma um papel também educativo — e não só colaborativo —, indicando, em boa parte das vezes, “deveres de casa” em prol de uma melhora no quadro sob tratamento. As estratégias principais da terapia cognitivo-comportamental que buscam auxiliar nos casos de ansiedade e que têm o potencial de reduzir os sintomas apresentados pelo paciente são as técnicas de relaxamento e respiração e a reprogramação mental.

3.2 Em quadros de depressão

A aplicação da terapia cognitivo-comportamental no tratamento da depressão oportuniza que o terapeuta conduza o paciente ao acesso a regras e a crenças provenientes de dados mnemônicos e ambientais que o próprio indivíduo fornece. Nesse sentido, pode-se afirmar que a TCC representa uma ferramenta que desenvolve a cooperação e a confiança, colocando o paciente em um papel ativo no seu processo de mudança.

3.3 Em quadros de fobias

Em se tratando especificamente de fobias, nem toda abordagem terapêutica tem comprovada eficácia no tratamento. No entanto, entre as que a apresentam, está a terapia cognitivo-comportamental, que envolve uma grande variedade de técnicas que visam auxiliar o paciente a modificar as atitudes relacionadas ao medo. Nesse caso, é possível que o problema não seja solucionado por completo, mas o seu impacto negativo sobre a saúde mental e sobre o dia a dia do indivíduo certamente será expressivamente reduzido.

3.4 Em quadros de transtorno bipolar

A terapia cognitivo-comportamental no tratamento do transtorno bipolar pode ser realizada a partir de sessões individuais ou em grupo, e o tipo de abordagem a ser empregada dependerá de como está o paciente. Geralmente, quando na fase maníaca, o indivíduo se sente bem, acreditando, inclusive, que não há necessidade de se tratar, o que pode gerar resistência às técnicas utilizadas. Na fase depressiva, a tendência é de que também haja ideias negativas no que diz respeito ao tratamento.

Os objetivos da psicoterapia — que tem extensa duração — nesses casos, porém, são:

  • educar os pacientes e aqueles que convivem com ele, como familiares e amigos, acerca das dificuldades provenientes da condição;
  • auxiliar os pacientes no desenvolvimento de um papel mais ativo ao longo do tratamento;
  • ensinar técnicas voltadas ao monitoramento de ocorrências, da sua gravidade e do curso dos sintomas característicos da doença;
  • introduzir atividades não farmacológicas para contornar emoções, comportamentos e pensamentos problemáticos;
  • auxiliar a lidar com os fatores estressores que têm o potencial de acelerar os episódios de depressão e mania;
  • tornar enfraquecidos os estigmas associados e os traumas etc.

4. Como aplicá-la?

No que diz respeito à sua aplicação prática, é importante ressaltar que as técnicas selecionadas e utilizadas devem ser adequadas à realidade das sessões e à conceituação dos pacientes, desde que satisfaçam o que se propuseram a satisfazer ao longo da terapia. Em linhas mais gerais, o profissional deverá buscar compreender quais são os comportamentos do paciente a fim de que, posteriormente, ele consiga identificar os pensamentos e os sentimentos que estão associados a eles.

Nesse contexto, o propósito é a evidenciação dos padrões comportamentais. Então, o terapeuta passa a guiar o paciente rumo à descoberta de caminhos alternativos e que sejam também mais funcionais. A ideia é cultivar um terreno fértil para que as condutas disfuncionais sejam substituídas por atitudes que gerem bem-estar àquele paciente.

Afinal, via de regra, tais comportamentos desencadeiam facilmente um sem-número de fatores, tanto emocionais quanto físicos, que geram diversas interferências negativas sobre os mais variados âmbitos da vida profissional e da pessoal. Nesse sentido, quando os pacientes conseguem analisar as suas próprias experiências sob outra ótica, chegam à conclusão de como os pensamentos nocivos surgem — de que forma foram aprendidos —, o que estavam fazendo quando surgiram — quais foram os gatilhos — e de como eles se sentiram.

4.1 As técnicas da abordagem cognitivo-comportamental

Como dito, as técnicas da TCC empregadas dependerão tanto do profissional que está à frente do tratamento quanto da complexidade da condição do paciente. No entanto, é possível citar como as principais:

  • a dessensibilização sistemática, que, em suma, trata-se de uma técnica que exporá o indivíduo sob tratamento, de modo imaginativo e gradual, a elementos que causam medo. A finalidade é fazer com que o paciente se torne apto a substituir os sentimentos relativos à tensão pelo relaxamento, mas é indispensável que tal exposição seja guiada pelo profissional e realizada de maneira segura;
  • a psicoeducação, que, basicamente, envolve a explicação de pontos relevantes do tratamento ao paciente, levantando questionamentos que o façam refletir sobre os seus próprios sentimentos e comportamentos. Por meio dessa técnica, torna-se viável tratar as informações relativas ao diagnóstico, por exemplo;
  • o controle dos níveis de estresse, que é uma técnica empregada a partir do ensinamento de táticas de relaxamento muscular, respiração e práticas cognitivas em prol de manter o domínio sobre a angústia;
  • o monitoramento e o registro de todas as ocorrências, que facilitam, por sua vez, a evidenciação de emoções e sentimentos do paciente;
  • a investigação dos fatores desencadeadores e das situações associadas a eles, que tem o potencial de aumentar a consciência do indivíduo sob tratamento acerca desse processo;
  • a reversão de hábitos, que tem como propósito elevar o nível de percepção do paciente sobre cada ocorrência que provoca algum tipo de angústia desconfortante.

Entretanto, para que as técnicas tenham a eficiência esperada, é imperativo que o emprego da terapia cognitivo-comportamental obedeça aos princípios básicos e, é claro, que o profissional que a utiliza efetivamente tenha capacitação — tanto técnica quanto teórica — para fazer a adequação prática a cada conceituação. Afinal, é essencial atender às especificidades de cada caso e de cada paciente.

5. Conclusão

Como você pôde ver, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma linha da área da Psicologia que vem crescendo mais e mais a cada dia, sendo bastante recomendada para o tratamento de inúmeros transtornos graças à sua clareza e à sua diretividade. Então, que tal buscar uma especialização na abordagem terapêutica e se tornar uma referência como profissional, gerando ainda mais impactos positivos na vida e no bem-estar psicossocial de cada um dos seus pacientes?

6. Sobre o Cognitivo

O Cognitivo é uma instituição especializada em cursos de pós-graduação/especialização. Oferecemos os seguintes cursos: especialização em psicoterapia cognitiva, especialização em TCC da infância, especialização em terapia do esquema e formação em terapia cognitivo-comportamental.

O Cognitivo tem origem na atividade clínica de seus professores, que transportam para a sala de aula o conhecimento teórico associado à experiência prática de forma ética e profissional. O Corpo Docente Convidado do Cognitivo é constituído por professores de ampla atuação, como terapeutas cognitivo-comportamentais oriundos de vários estados do país e vinculados às mais diversas Instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do exterior.

O Cognitivo tem sede em Santa Maria (RS), mas conta com outras unidades no sul, como Porto Alegre e Florianópolis, e em outras regiões do país.

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